PRONTUÁRiO
ALTERNATIVAS
«Revista
cultural de publicação bimestral, que divulga obras influentes no
sector artístico nacional e internacional», Diverge
-
sendo directores editoriais Dinis Costa e Ruben Santos - expande-se,
a partir do número 0, da virtualidade on
line
para a propensão em papel. Nesta «proposta de uma nova abordagem
visual e informativa, permitindo colmatar uma lacuna a nível das
publicações periódicas de cariz cultural», destaca-se uma
original Odisseia…
A Bordo da Calypso, com os actores Bruno Nogueira e Gonçalo Waddington. Apresentando, como críticos, Andreia Carvalho, B. Palma, Filipe Santos, Francisco Costa, João Batista, João Vila-Lobos, Marta Caria e Tiago Lopes, e Emanuel Lopes e Miguel Costa entre os fotógrafos, ou Dinis Costa e José Carvalho como ilustradores, Diverge - sob chancela Livros de Ontem - tem como autores convidados Luísa Sequeira e José de Matos-Cruz, que analisa o Cinema de Abril: «As manifestações sociais, políticas e culturais transferiram-se, com um olhar de emoções e vivências em evolução, que a memória conserva, para um registo sucedâneo, evolutivo, em que se verifica a própria história.»
A Bordo da Calypso, com os actores Bruno Nogueira e Gonçalo Waddington. Apresentando, como críticos, Andreia Carvalho, B. Palma, Filipe Santos, Francisco Costa, João Batista, João Vila-Lobos, Marta Caria e Tiago Lopes, e Emanuel Lopes e Miguel Costa entre os fotógrafos, ou Dinis Costa e José Carvalho como ilustradores, Diverge - sob chancela Livros de Ontem - tem como autores convidados Luísa Sequeira e José de Matos-Cruz, que analisa o Cinema de Abril: «As manifestações sociais, políticas e culturais transferiram-se, com um olhar de emoções e vivências em evolução, que a memória conserva, para um registo sucedâneo, evolutivo, em que se verifica a própria história.»
CALENDÁRiO
11JUL2013
- Papaveronoir produziu, e estreia A
Batalha de Tabatô de
João Viana; com Fatu
Djebaté
e Mamadu
Baio.
IMAG.87
MEMÓRiA
12JUL1884-1920
- Amadeo Clemente Modigliani: Artista plástico italiano, precursor
do modernismo - «Aquilo que eu procuro, na pintura, não é o real
ou o irreal, mas antes o inconsciente, o mistério do instinto na
alma humana». IMAG.154-260
13JUL1894-1940
- Isaac Babel: Escritor e jornalista soviético - «A totalidade de
sua obra é de pequena monta, mas significativa o bastante para
consagrá-lo como um dos principais autores do Século XX» (Ana
Lucia Santana). IMAG.419
1907-13JUL1954
- Frida Kahlo: Artista plástica mexicana - «Pinto a mim mesma,
porque sou sozinha, e porque sou o assunto que conheço melhor».
IMAG.78-110-137-198-382
1879-13JUL1974
- Raul Lino: Arquitecto português, autor de A
Nossa Casa - Apontamentos Sobre o Bom Gosto Na Construção das Casas
Simples
(1918), devotado «à necessidade que há de re-humanizar a vida, de
salvar aquilo que temos de mais precioso, a nossa alma, que no
decurso de muitos séculos fomos aprendendo a venerar como sede da
própria consciência» (1957).
IMAG.40-169-186-251-447
1930-13JUL2004
- Carlos Kleiber: Maestro austro-alemão - «O único disco aceitável
é aquele que ainda não foi produzido». IMAG.325
1860-14JUL1904
- Anton Tchékhov: Ficcionista e dramaturgo russo - «Filho de um
servo, servente de loja, cantor na igreja, estudante do liceu e da
Universidade, educado para a reverência de superiores e para beijos
de mão, para se curvar perante os pensamentos alheios, para a
gratidão por qualquer pequeno pedaço de pão, muitas vezes sovado,
indo à escola sem galochas» (Carta a Aleksandr Tchékhov - 1889).
IMAG.
139-260-364-454-457
1866-14JUL1954
- Jacinto Benavente y Martinez: Crítico literário e dramaturgo
espanhol, Prémio Nobel da Literatura em 1922 - «Ao morrermos,
convém deixar algumas dívidas incobráveis, para que alguém nos
chore com sinceridade».
PARLATÓRiO
Algum
tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma jovem caminhando por um
mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e
havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se
tu soubesses como é terrível obter o conhecimento de repente –
como um relâmpago iluminando a Terra! Agora, vivo num planeta
dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo
de uma vez, numa questão de segundos. As minhas amigas e colegas
tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes, e agora
tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se
houvesse, eu veria.
Frida
Khalo
COMENTÁRiO
Como
contista, Babel rivaliza com Turguénev, Tchékhov, Maupassant,
Gogol, Joyce, Hemingway, Lawrence e Borges: tal como eles, é um
génio da forma. Mas está próximo de Kafka, na peculiar dicotomia
do seu génio.
Harold
Bloom
…Esse
livro ímpar intitula-se O
Exército de Cavalaria [de
Isaac Babel]. A música do seu estilo contrasta com a quase inefável
brutalidade de certas cenas. Um dos contos
O Sal
conhece uma glória que parece reservada aos versos e que a prosa
raramente alcança: sabem-no de cor muitas pessoas.
Jorge
Luis Borges
VISTORiA
E
Iona volta-se para contar como morreu seu filho, mas então o
corcunda suspira aliviado e declara que, graças a Deus, eles já
chegaram, finalmente. Tendo recebido os vinte copeques, Iona fixa
longamente o olhar no encalço dos farristas, que desaparecem num
portão escuro. Outra vez ele está só, e outra vez o silêncio cai
sobre ele… A angústia, que amainara um pouco, surge de novo e
oprime o peito com força maior ainda. Os olhos de Iona correm
aflitos e martirizados pelas turbas que se agitam de ambos os lados
da rua: não haverá no meio desses milhares de pessoas ao menos uma
que quisesse ouvi-lo? Mas as turbas correm sem notá-lo, nem a ele,
nem à sua angústia… Angústia enorme, que não conhece limites.
Se estourasse o peito de Iona e a angústia se derramasse, ela
inundaria, parece, o mundo inteiro – e no entanto, ela é
invisível. Ela conseguiu aninhar-se numa casca tão ínfima, que não
se pode enxergá-la nem com lanterna à luz do sol…
Iona
vê um zelador de prédio com um saco na mão e decide falar com ele.
– Irmão,
que horas serão? – pergunta-lhe.
– Passa
das nove… E por que ficas parado aqui? Vai andando!
Iona
afasta-se alguns passos, dobra o corpo e entrega-se à angústia…
Dirigir-se aos homens, ele já considera inútil. Mas não passam nem
cinco minutos e ele endireita-se, sacode a cabeça como se sentisse
uma dor aguda e puxa as rédeas… Não aguenta mais.
«Para
casa – pensa ele. – Para casa!»
E
a pequena égua, como que adivinhando-lhe o pensamento, põe-se a
correr a trote miúdo. Cerca de hora e meia depois, Iona já está
sentado junto a uma estufa grande e suja. Em cima da estufa, nos
bancos, no chão, roncam homens. O ar está denso e abafado… Iona
olha para os dorminhocos, coça-se, e lamenta que voltou para casa
tão cedo.
«Não
ganhei nem para a aveia», pensa ele. «É por isso que estou aflito.
Um homem que entende do seu trabalho… que está de barriga cheia e
o cavalo também, este está sempre sossegado…»
Anton
Tchékhov
-
Angústia
(1886, excerto - Sobre Tradução de Tatiana Belinky)
Terminada
a cerimónia nupcial, o rabino deixou-se cair num cadeirão. Depois
saiu da sala e viu as mesas postas ao longo do pátio. Eram tantas
que a sua cauda passava para lá do portão que dava para a Rua
Gospitalnaia. Cobertas de veludo, as mesas serpenteavam pelo pátio
como cobras exibindo a pança feita de coloridos retalhos, retalhos
de veludo laranja e carmesim que cantavam com voz grave.
As
salas tinham sido transformadas em cozinhas. Uma grossa chama, uma
ébria e farfalhuda chama, batia nas portas enegrecidas pelo fumo.
Nos seus raios fumegantes, assavam as faces das velhas e os queixos
trémulos do mulherio de seios ensebados. O suor rosado como sangue,
rosado como a espuma de um cão enraivecido escorria desse monte
espesso que exalava um fedor adocicado a carne humana. Três
cozinheiras, sem contar com as ajudantes, preparavam o jantar da
boda, sob o comando da octogenária Reizl, marreca e minúscula,
tradicional como o pergaminho da Tora.
Antes
do banquete, apareceu à socapa no pátio um jovem desconhecido dos
convidados. Procurou por Bênia Krik. Chamou Bênia Krik à parte e
falou assim:
Olhe,
Rei!
disse ele.
Tenho de lhe dizer umas palavrinhas. Foi a ti Hana da Rua Kostétskaia
que me mandou…
Isaac
Babel
-
Contos Escolhidos
COROLÁRiO
Se
o progresso não equivale a civilização, também o espírito só
por si não basta para a fazer surgir. Distingamos entre espírito e
alma. O primeiro é susceptível de ser cultivado; por seu
lado, a alma educa-se por si própria, é autodidacta; o espírito é
resultante de uma composição elaborada pela pessoa; a alma é uma
sublimação espontânea que domina a pessoa… Sem interferência da
alma, não há civilização verdadeira.
Raul
Lino (1951)
BREVIÁRiO
Sextante
edita Um Dia Na Vida de Ivan
Deníssovitch de Aleksandr
Soljenítsin / Alexander Soljenitsine (1918-2008); tradução de
António Pescada. IMAG.147-209
Blu
Edições lança 7 Ensaios
Sobre o Povoamento dos Açores de
José Guilherme Reis Leite.
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