quinta-feira, outubro 19, 2017

IMAGINÁRiO #389

José de Matos-Cruz | 01 Outubro 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

PERCURSOS
Em Junho de 1984, falecia em Chelsea (Londres), com setenta e cinco anos, o cineasta Joseph Losey. Entre os motivos prováveis, foi indicado o desgaste físico e psíquico, causado pelo último filme que dirigiu - Steaming, baseado em peça de Nell Dunn. Artista e intelectual com uma carreira extensa e diversificada, Losey era geralmente considerado um realizador inglês, embora nascido nos Estados Unidos - em Janeiro de 1909, no Winsconsin (La Crosse). Ainda na América, concretizou O Rapaz dos Cabelos Verdes (1948), com que se estreou em longas metragens, após trabalhos de supervisão ou montagem em dezenas de documentários e filmes educativos. Aliás, era um homem de múltiplos afazeres e interesses culturais. Estudou medicina no Darmouyh College, literatura e teatro em Harvard (Cambridge, Massachussetts), foi crítico de The New York Times, actor e encenador, intérprete radiofónico na NBC e na CBS, comentador de Variety. Um dia, declarou: «Amo o teatro, amo o cinema, que são inteiramente a minha existência - tão concentrados e tão envolventes que, muitas vezes, interferem ou excluem, mesmo, uma vida privada».

CALENDÁRiO

1929-13DEZ2011 - Carlo Peroni, aliás Perogatt: Ilustrador e animador italiano, co-criador de Calimero (1963) - «Em Itália, a banda desenhada ainda é considerada um produto de segunda categoria, para crianças, enquanto noutros países goza de uma justa consideração, e os leitores são em geral mais velhos. Entre nós, os quadradinhos destinam-se aos rapazes, os adultos envergonham-se de os adquirir. Para mim, e desde que tenham qualidade, podem agradar a toda a gente» (2009 - a Piero Tonin).

1913-14DEZ2011 - Joe Simon: Escritor e ilustrador americano, autor de banda desenhada, co-criador de Captain America (1941) - «Viveu uma vida cheia, e sentimo-nos muito confortados, porque ainda teve tempo de constatar o sucesso logrado pelo último filme dedicado ao seu herói» (Vanguard Productions). IMAG.1-110-141-368

27AGO1941-17DEZ2011 - Cesária Évora: Cantora cabo-verdiana - «Na sua voz cantada está presente o céu imenso sobre o Monte Cara, toda a baía do Mindelo, a imensa saudade de todos os cabo-verdianos e a esperança inteira de um povo» (José Luís Peixoto).

ANTIQUÁRiO

1823-02OUT1892 - Ernest Renan: Escritor e historiador holandês - «Um queria fazer de Jesus um sábio, outro, um filósofo, outro ainda, um patriota, outro, um homem de bem, outro, um moralista, outro, um santo. Não foi nada disso. Foi um encantador» (Vida de Jesus).

03OUT1882-1937 - Karol Szymanowski: Compositor polaco - «É-me impossível falar dele de maneira objectiva, como pessoa ou como maestro, pois não pode esperar-se que um admirador consiga ser isento ou emitir um juízo desapaixonado» (Simon Ratlle). IMAG.343-358

1809-06OUT1892 - Alfred Tennyson: Poeta inglês - «Os sonhos são verdadeiros enquanto duram… E não vivemos, nós, nos sonhos?» (The Higher Pantheism - excerto).

1837-07OUT1872 - José Cardoso Vieira de Castro: Escritor e político português - «Um dirigente académico com alguma importância; um jornalista menor; um escritor sem talento; um político sem poder; um criminoso e um degredado» (Vasco Pulido Valente - Glória).

VISTORiA

Despedida

Corrente abaixo, rio frio, para o mar,
exclama a vaga libertadora:
«Não mais por ti irão meus passos,
para todo o sempre».  
Corrente, doce corrente, por relva e prado
um riacho e, logo, um rio:
Agora, por ti devem meus passos ir,
para todo o sempre.

Mas aqui há-de o carvalho suspirar
e o arbusto estremecer.
Aqui, por ti, zumbirão as abelhas
para todo o sempre.

Milhares de sois jorrarão sobre ti,
Milhares de luas rebrilharão;
Mas não irão por ti meus passos,
para todo o sempre.
Alfred Tennyson

TRAJECTÓRiA

ERNEST RENAN

Nascido em 1823, Ernest Renan foi um dos maiores escritores e historiadores franceses do Século XIX. Tendo prosseguido estudos numa instituição religiosa, contudo, não se sentiu atraído pela vida sacerdotal. Dedicando grande parte da sua vida à investigação histórica, inseria-se na escola historicista, então em voga. Daí fazer da aproximação ao ambiente original das ocorrências o seu grande cavalo de batalha, sempre munido de dúvida metódica e de um grande espírito cientifico.
Tendo chegado a ser funcionário e diplomata do governo francês, viria a falecer em 1892. Entre as suas maiores obras destacam-se os projectos História das Origens do Cristianismo e História do Judaísmo.
Publicações Europa-América

COMENTÁRiO

Juntamente com Taine e Berthelot, [Ernest] Renan representou uma geração que acreditou no poder absoluto da Ciência, na sua acção absolutamente benéfica e no seu futuro absoluto. Ele era um céptico e ensinou o cepticismo, mas o seu cepticismo não era sem sangue, mas vivo como o de Montaigne, e por isso prendia-se com tanta lealdade na ciência positiva, para ela transferindo algo da fé incondicional do sacerdote de Tréguier.
Albert Thibaudet
- Histoire de la Littérature Française de 1789 à Nos Jours (1936, excerto)

PARLATÓRiO

A caridade é isto: é este condescender incessante com todos os apelos; é esta concorrência ofegante e apressada a todos os chamamentos! E a sua influência são amanhã as enfermidades saradas, os pobres consolados, e as tristezas sem dor… Deixem-me alevantar o espírito neste país que talhou a pique as suas formas esculturais, e recortou, como de pólo a pólo, as suas feições gigantescas n’uma montanha imensa, que atira com a sua testa para o meio das nuvens para que as estrelas lhe emoldurem lá em cima tiara esplêndida, e cá em baixo assenta as suas bases n’um mundo imenso, onde Alexandre d’Humbold, sábio imenso como ele, viu, à luz poderosa da sua presciência enorme, o empório da civilização futura!
Vieira de Castro
- Discurso Sobre a Caridade (excerto) - Recitado no Salão do Theatro Lyrico do Rio de Janeiro, em 26JAN1867


Uma nação é uma alma, um princípio espiritual. A nação, como o indivíduo, é o desfecho de um longo passado de esforços, de sacrifícios e de dedicações. Ter glórias comuns no passado, uma vontade comum no presente; ter feito grandes coisas juntas, ainda querer fazê-las, eis as condições essenciais para ser um povo. Ama-se em proporção dos sacrifícios em que se consentiu, dos males que se sofreram.
Ernest Renan (1882)

ANTIQUÁRiO

OUT1872 - Neste mês, em Portugal, exportam-se 7.544.299 litros de sal, no valor de 9:295$050 réis.

NOV1872 - António Vieira de Castro presenteia Camilo Castelo Branco com a farda, o espadachim, o chapéu e o colar, insígnias da Academia Real das Ciências, que haviam pertencido ao seu falecido irmão, José Cardoso Vieira de Castro.
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BREVIÁRiO

Estévez Seven edita em DVD, O Mensageiro / The Go-Between (1971) de Joseph Losey; com Julie Cristhie e Alan Bates. IMAG.99-167

Gradiva edita A Cidade das Palavras de Alberto Manguel; tradução de Maria de Fátima Carmo.

Sony Music edita em CD, Murray Perahia Plays [Johann Sebastian] Bach [1685-1750] Concertos. IMAG.32-58-163-198-203-212-216-220-240-248-267-268-269-277-280-284-305-308-332-334-340-363-375-384

Imprensa Nacional/Casa da Moeda edita, com Fundação Mário Soares, O Teatro de Revista e a I República de Pedro Caldeira Rodrigues.

Andante edita em CD, sob chancela Naїve, Serguei Prokofiev [1891-1953]: Concerto; [Sergei] Rachmaninov [1873-1943]: Danças Sinfónicas pela violinista Geneviève Laurenceau, com Orquestra Nacional do Capitólio de Toulouse, sob a direcção de Tugan Sokhiev. IMAG.117-204-284-319-375

Modo de Ler edita Poesia de Eugénio de Andrade (1923-2005).  
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Modo de Ler edita Prosa de Eugénio de Andrade (1923-2005).  
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Adante edita em CD, sob chancela Hyperion, Francisco Guerrero [1528-1599]: Missa ‘Congratulamini Mihi’ por The Cardinall’s Musick, sob a direcção de Andrew Carwood.

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS - Folhetim Aperiódico

QUANDO A NOITE ESTÁ PARADA VÃO-SE OS VENTOS DE MUDANÇA - 2

Porém, Olavo evitou, habilmente, fazer uma desfeita. Pelo contrário, respondeu-lhe com elegância insinuante:
Talvez tenha razão... Mas, isso, é o que vêem uns olhos formosos. E, consigo ao de leve, não há nuvem que se atreva a descarregar em cima de nós!
Ela então, pestanejando, absorveu-o embevecida.
E continuou a sonhar em voz alta:
Talvez por isso, a doce e florida Primavera é uma estação feminina, e todos os outros períodos do ano, tão excessivos ou severos, são masculinos... Não acha? Terei mesmo razão, ou você discorda?
Continua

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