sexta-feira, outubro 06, 2017

IMAGINÁRiO #382

José de Matos-Cruz | 08 Agosto 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

PRODÍGIOS
Entre a terra e o mar, ao sol do deserto, por mundos paradisíacos e lugares remotos, entre povos primitivos e cidades primordiais, desfrutando ou combatendo aos contrastes da sobrevivência, Corto Maltese converteu-se em símbolo e ascese do aventureiro romântico, desencantado, cujo destino errático, mas avassalador, se virtualiza pelo sonho e pelo destino, no infinito labirinto da condição humana. Cumprindo memórias e realidades fantásticas da história pelo contraste de civilizações, testemunhando e transfigurando os fundamentos essenciais da literatura aventurosa. E, sobretudo, atribuindo à banda desenhada um decisivo estatuto cultural e artístico, em sua síntese romântica, nostálgica e moderna sobre as virtualidades do imaginário…
Concebido e recriado por Hugo Pratt (1927-1995), as origens de Corto Maltese remontam a 1967, durante A Balada do Mar Salgado. Obra-prima em quadradinhos de expressão europeia, a sua divulgação / reedição - entre nós, sob chancela Asa - prossegue com As Etiópicas, Longínquas Ilhas do Vento e Sob a Bandeira dos Piratas, destacando-se os notáveis prefácios de Marco Steiner, com as fotografias alusivas de Marco D’Anna. Uma proposta irresistível, para conhecer ou redescobrir o prodigioso Corto Maltese.

CALENDÁRiO

22OUT2011-01JAN2012 - Em Lisboa, Cordoaria Nacional apresenta, com o apoio do Museu de Marinha, O Mundo dos Dinossauros.

24OUT-05NOV2011 - Em Lisboa, Saldanha Residence apresenta Tintin Em Lisboa - Exposição de Coleccionadores. IMAG. 131-136-210-217-245-250-252-317-323-350

25OUT2011 - Em Lisboa, são entregues os galardões da 8ª edição do Prémio Stuart de Desenho de Imprensa - El Corte Inglés / Casa da Imprensa 2011: Grande Prémio - Wikileaks de André Carrilho (Diário de Notícias); Tira Cómica - Crise de Luís Veloso (O Interior - Guarda); Ilustração - Manuel da Fonseca de Susa Monteiro (Diário do Alentejo).

03NOV2011-29JAN2012 - No Pavilhão Preto - Museu da Cidade, Casa da América Latina apresenta, com Embaixada do México e Câmara Municipal de Lisboa, Frida Kahlo [1907-1954], as Suas Fotografias. IMAG.78-110-137-198

MEMÓRiA

1908-06MAR1992 - Maria Helena Vieira da Silva: Artista plástica portuguesa, naturalizada francesa (1956) - «Procuro pintar algo dos espaços, dos ritmos, dos movimentos das coisas». IMAG.14-39-42-75-134-168-182-224-227

1877-09AGO1962 - Hermann Hesse: Escritor alemão, Prémio Nobel da Literatura em 1946 - «Para mim, não existem mais pátrias nem ideais; tudo isso não passa de pura decoração para os governantes, que preparam a próxima matança» (1957). IMAG.137-349

10AGO1912-2001 - Jorge Amado: Escritor brasileiro - «…Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama». IMAG.333

1905-12AGO1982 - Henry Fonda: Actor americano - «Se existe algo no meu olhar, se o meu rosto revela honestidade, espero assim transmitir às pessoas o homem que gostaria de ser, o homem que pretendo ser». IMAG.23-35-179-205-331

1885-14AGO1972 - Louis-Henri-Jean Farigoule, aliás Jules Romains: Escritor francês - «As pessoas que gozam de boa saúde são, apenas, doentes que não sabem que o estão».

15AGO1922-2009 - Lukas Foss: Compositor, maestro, pianista e pedagogo americano, nascido na Alemanha - «Como Charles Ives, que normalmente descobria as coisas muito cedo, eu nunca fiz nada na hora certa... Sempre foi meu costume chegar tarde demais». IMAG.235

19AGO1922 - No Condes, Castello Lopes estreia Os Faroleiros de Maurice Mariaud, com produção de Caldevilla Film. IMAG.9-76-172-199

ANTIQUÁRiO

Verão1952 - Na Praia Azul, em Espinho, decorre a final do primeiro Grande Concurso Infantil das Praias de Portugal. Iniciativa do Diário de Notícias, as Construções na Areia tiveram como organizador o artista Erico Braga.


INVENTÁRiO

OS FAROLEIROS
Natural de França, onde trabalhava para a Gaumont, Maurice Mariaud chegou a Portugal em 1922 – contratado por Caldevilla Film, para quem dirigiu Os Faroleiros, um «drama-documentário», de que também foi argumentista e intérprete (como João Vidal). Tudo incide sobre triângulo amoroso, numa aldeia de pescadores, culminando em farol isolado do litoral – ambiente restrito que, tendo o mar limítrofe, precipita um termo fatídico, arrepiante, para o entrechocar de conflitos e paixões. O vislumbre de Raul de Caldevilla está patente no respectivo folheto promocional: «O cinematógrafo moderno tem-se distanciado muito, nos temas escolhidos e nos fracassos, da técnica de há vinte anos. Já hoje dificilmente se suportam – e vão sendo postos de parte no estrangeiro – esses longos filmes em séries de enredo complicado e por vezes falhos de verosimilhança que estão para o ecrã como para o tablado as tragédias gregas, as quais levam dias a representar. O público de hoje, talvez por motivo da vida intensiva que leva e lhe proporciona certos lazeres, escolhe de preferência películas de não muito longa metragem, despidas de pormenores dispensáveis, onde haja o máximo de emoção adentro duma acção quase rectilínea que vá aumentando de intensidade até ao resultado final. Certamente, há reconstituições históricas e adaptáveis de romances em que o cenarista tem de abstrair deste critério, sob pena de deixar no escuro usos e costumes que servem de decoração ao quadro, ou de amputar belezas episódicas que o público consagrou. Mas não é esse o caso das obras escritas expressamente para o cinema. Nestas há que ser rápido, incisivo, recortando e dispondo as cenas de forma a atingir o mais claramente possível o acume da acção. É indispensável que o desenlace se suceda logicamente, mas sem que o espectador possa tê-lo adivinhado». A rodagem desta «tragédia empolgante de beleza, que o espírito idealizador de um mestre conseguiu ornar de minúcias» (Porto Cinematográfico), teve lugar na Caparica e farol do Bugio. A primeira apresentação foi reservada ao Porto (Salão Jardim da Trindade), a 12 de Julho de 1922; nesse ano, a estreia decorreu no Condes (Lisboa), a 19 de Agosto; e na mesma sala se repôs, a 11 de Dezembro de 1925, como O Faroleiro da Torre do Bugio. A Pathé Consortium adquiriu direitos de exploração em França, e foi ainda distribuído no Brasil, Luxemburgo, Bélgica, Itália e Egipto. No elenco, destacam-se Maria Sampaio (Maria Ana), Abegaída de Almeida (Rosa) e Alberto Castro Neves (António Gaspar) – que, em 1931, convidou Mariaud a regressar ao nosso país, onde realizou Nua, para Tágide Filme. Ao longo de decénios, ignorou-se o rasto de Os Faroleiros – perda tanto mais lamentada quanto, possivelmente, se tratava de uma das obras-primas mudas da nossa cinematografia. Afortunadamente, tal viria a confirmar-se, em finais de 1994 – quando foram descobertos, no Porto (Rua Sá da Bandeira), o negativo e uma cópia, que a Cinemateca Portuguesa mandou restaurar em Itália, com as tintagens originais e intertítulos em português.

PARLATÓRiO

Às vezes, pelo caminho da arte, experimento súbitas, mas fugazes iluminações e então sinto por momentos uma confiança total, que está além da razão. Algumas pessoas entendidas que estudaram essas questões dizem-me que a mística explica tudo. Então é preciso dizer que não sou suficientemente mística. E continuo a acreditar que só a morte me dará a explicação que não consigo encontrar.
Vieira da Silva

BREVIÁRiO

Cavalo de Ferro edita Viagem ao País da Manhã de Hermann Hesse (1877-1962); tradução de Mónica Dias. IMAG.137-349

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Grazyna Bacewicz [1909-1969]: Sonata Para Piano Nº 2 - Quintetos 1 e 2 pelo pianista Krystian Zimerman, com Kaja Danczowska (violino), Ágata Szymczewska (violino), Ryszard Groblewski (viola) e Rafal Kwlatkowski (violoncelo).

Bertrand edita Cartas Astrológicas de Fernando Pessoa (1888-1935) de Paulo Cardoso e Jerónimo Pizarro. 
IMAG. 26-28-64-82-130-131-157-182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343-347-376

Megamúsica edita em CD, sob chancela Alia Vox, Jean-Philippe Rameau [1682-1764]: L’Orchestre de Louis XV, Suites d’Orchestre por Le Concert des Nations, sob a direcção de Jordi Savall. IMAG.340

Ática edita Os Portugueses, Um Povo Suicida de Miguel de Unamuno (1864-1936). IMAG.112-226


Na série Corto Maltese de Hugo Pratt (1927-1995), Asa edita As Etiópicas, Longínquas Ilhas do Vento e Sob a Bandeira dos Piratas; prefácios de Marco Steiner, fotografias de Marco D’Anna. IMAG.1-26-47-65-69-75-157-256-286-308-360

Brilliant Classics edita em CD, Enrique Granados [1867-1916] - Goyescas - Allegro de Concierto; [Manuel de] Falla [1876-1946] - Tres Obras Desconocidas pela pianista Cristina Ortis. IMAG.104

COMENTÁRiO

Não devemos fugir da vida activa para a vida contemplativa, nem vice-versa, mas ir alternando entre as duas, estar sempre a caminho, nas duas ter a nossa morada, participar em ambas.
Hermann Hesse
- O Jogo das Contas de Vidro
 

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