quinta-feira, abril 26, 2018

Imaginário-Médio: Conclusão

Iniciado em 2004, na versão newsletter, o IMAGINÁRiO foi acolhido pela Truca de Luís Gaspar até ao número 357 (2009), reaparecendo em virtualidade temporal sob chancela Kafre, a partir do número 500 (2012), com o estímulo e a criteriosa gestão de Daniel Maia, a quem presto o meu especial reconhecimento. Tal como pelo período Médio – entre os números 358 e 499 – que neste espaço adquiriu uma ampla repercussão e, afinal, se completa (2017-2018). Facultando o acesso integral, online, ao curso de olhares e memórias sobre o fenómeno cultural que, em seus múltiplos testemunhos e expressões, suscitaram e continuam a motivar o IMAGINÁRiO.


Ao privilegiar um manancial diverso e alusivo sobre os criadores e as manifestações artísticas – como a pintura, a música, a literatura, o cinema ou os quadradinhos – propõe-se, em simultâneo, um cruzamento de referências singulares e concretas, cuja implicação essencial remete para a história e a actualidade, aliando um envolvimento analítico ou prospectivo. Assim, a informação disponível através do segmento Médio reconstitui a estrutura e o alcance primordiais do IMAGINÁRiO, em paralelo ao dinamizar de um pacto implícito e sempre revitalizado com os companheiros aos quais renovo a minha gratidão, e com os nossos seguidores fundamentais.

quarta-feira, abril 25, 2018

IMAGINÁRiO-Extra: O Infante Portugal e As Tramóias Capitais [Kafre]

Reprodução do primeiro Imáginário-Extra, de Outubro 2007, com o comunicado
de imprensa alusivo à auto-edição do volume inicial da série O Infante Portugal.

Destaque ao 10º aniversário da edição Kafre original neste link.

PRONTUÁRiO

INFANTE PORTUGAL

Lisboa é uma cidade imaginária, intemporal, onde se entrecruzam ou entrechocam alfacinhas solitários, vadios e boémios, cidadãos ilustres, super-heróis fantásticos, jornalistas e filósofos, mulheres prodigiosas, infandos malfeitores, necrófagos e estapafúrdios, intelectuais sórdidos, amorais e puritanos, políticos ubíquos, virgens fatais, náufragos e forasteiros, angélicos facínoras, autóctones estrangeirados, emigrados neurasténicos, arrivistas e refractários, insubmissos conformados, aberrações umbilicais e outras virtuais aparições, em fantasmagorias e abominações, em artimanhas e manigâncias, em dissídios e adversidades, em compromissos e rupturas, em perigos e desafios, em sensos comuns e sentidos proibidos, em memórias efémeras e leviandades consagradas, amalgamando-se entre ruínas e vielas, rotinas e vivências, equívocos e assombros, pactos e traições, euforias e nostalgias, artimanhas e maquinações, tudo num turbilhão precário ou numa monotonia secular.
Sol e lua. E, certa manhã, nos arredores da capital, quando o Infante Portugal porfiava em mais um descanso do guerreiro, sob a identidade pública de Rui Ruivo, um impoluto causídico, após mais uma banal incursão nocturna, entre insónias e convulsões, entre horrores e irrisões, eis que tudo recomeça… Ao receber um telefonema provocador de Vulcão, o seu mais infame e funesto antagonista.


O Infante Portugal e As Tramóias Capitais
Edição: Edições Kafre (2007)
Autor/Editor: José de Matos-Cruz
Ilustradores: Isabel Aboim, Filipe Abranches, Renato Abreu,
Luís Diferr, José Carlos Fernandes, José Garcês,
António Jorge Gonçalves, Luís Louro, Zé Manel,
Pedro Massano, José Ruy, Eugénio Silva, Augusto Trigo

terça-feira, abril 24, 2018

IMAGINÁRiO #499

José de Matos-Cruz | 18 Janeiro 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

EFABULAÇÕES
Sobretudo motivadas para a publicação, em álbuns coloridos, das obras-primas e da produção em série de origem franco-belga, as principais editoras europeias foram alterando, estrategicamente, uma opção de actualidade - pela oferta de títulos prestigiados ou alusivos sobre clássicos da literatura, em especial para jovens, através da recriação quadrinizada por artistas americanos. Trata-se de uma alternativa aos comics tradicionais que, podendo atrair os leitores fanáticos, suscita outros horizontes de fascinação aos destinatários primordiais. Assim, destacam-se os Contos de Fadas de Oscar Wilde / Fairy Tales of Oscar Wilde (1992-2004), ilustrados por P. Craig Russell: um imaginário sob o signo fantástico - em que o lendário da magia, o elã prodigioso, o onírico e a antiguidade correspondem, no entanto, a uma bizarra expressão dos valores e da moralidade, inerentes ao culto, e simbolizada numa contemporânea equivalência sobre os sentimentos humanos, ou numa dramática implicação sob as contingências do real… Incidências efabuladas pela alegoria desmesurada e, afinal, expostas ao precário epílogo da felicidade, ante a crueldade e os privilégios, a solidão ou os pavores infantis.

CALENDÁRiO

1961-28JAN2014 - Philippe Delaby: Artista belga de banda desenhada - «A sua paixão, a sua energia, o seu sentido do detalhe, da découpage, e a força das suas personagens, fizeram da série Murena, com argumentos do seu amigo Jean Dufaux, um sucesso internacional, plebiscitado por milhares de leitores e reconhecido pelos maiores especialistas da antiguidade romana» (Dargaud). IMAG.88-436

1923-29JAN2014 - François Cavanna: Autor francês, ficcionista e desenhador satírico, fundador das revistas Hara-Kiri e Charlie Hebdo - «O grande sacerdote do humor francês» (Charb).

31JAN-06ABR2014 - Em Lisboa, Museu da Cidade apresenta Sopros de Vida, exposição de pintura e escultura de Gil Teixeira Lopes. IMAG.236

31JAN-15ABR2014 - Em Lisboa, BES Arte & Finança apresenta Amar as Diferenças de Michelangelo Pistoletto e Marco Martins; curadoria pelo Centro de Criação de Teatro e Artes de Rua. IMAG.58-125-173-292-300

1933-02FEV2014 - Eduardo de Oliveira Coutinho, aliás Eduardo Coutinho: Cineasta brasileiro, realizador de Cabra Marcado Para Morrer (1984) - «Um dos maiores documentaristas do Brasil» (Diário de Notícias).

1967-02FEV2014 - Philip Seymour Hoffman: Actor americano, distinguido com o Oscar por Capote (2005) - «Era, verdadeiramente, um homem gentil, maravilhoso, e um dos nossos mais talentosos actores de todos os tempos» (Mia Farrow). IMAG.84

06FEV-19ABR2014 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe Escrita Íntima - Cartas e Desenhos; sobre Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) e Arpad Szènes (1897-1985).
IMAG.14-39-42-75-134-168-182-224-227-382-386-392-434-461-486-490

07FEV-20ABR2014 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta, com Associação Ser +, VIII Private Lives - com Criação Absurda, exposição de fotografia de Rodrigo Bettencourt da Câmara.

VISTORiA

Frustração

Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.
Miguel Torga
- Diário XV

PARLATÓRiO

Quando digo que não me vejo como um intelectual, que não me considero culto, é por uma razão simples: quando vejo alguém culto, fico assustado, não tanto surpreendido. Admiro certas coisas, outras não, mas fico assustado. Alguém culto faz-se notar. É um saber, sobretudo, assustador. Vemos isso em muitos intelectuais, eles sabem tudo - bem, sabem tudo, estão a par de tudo, sabem a história da Itália, da Renascença, sabem geografia do Pólo Norte, sabem… Podemos fazer uma lista, são capazes de falar sobre tudo. É abominável. Quando digo que não sou culto, nem intelectual, quero dizer algo simples: não tenho um saber de reserva. Pelo menos, é algo que não me preocupa. Com minha morte, não será preciso procurar o que tenho para publicar: nada, pois não tenho nada de reserva. Não tenho provisão alguma, nenhum saber de resguardo, e tudo o que aprendo, aprendo para certa tarefa, e, concluída essa tarefa, esqueço. De modo que, se, dez anos depois, sou forçado a regressar ao mesmo tema, ou algo próximo, tenho de recomeçar do zero. Excepto em alguns casos raros, pois Spinoza está no meu coração, e não na minha cabeça, eu não o esqueço… Por que não admiro essa cultura assustadora? Pessoas que falam…
Gilles Deleuze

BREVIÁRiO

Dom Quixote edita Uma Verdade Incómoda de John Le Carré; tradução de J. Teixeira de Aguilar. IMAG.167-232-342-390

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, [Alberto] Ginastera [1916-1983]; [Antonin] Dvorák [1841-1904]; [Dmitri] Shostakovich [1906-1975] por Simón Bolívar String Quartet.  
IMAG.100-199-201-219-266-338-368-408-465

Esfera dos Livros edita Escravos e Traficantes No Império Português - O Comércio Negreiro Português No Atlântico Durante os Séculos XV a XIX de Arlindo Manuel Caldeira.

Waxtime edita em CD, Duke Ellington [1899-1974] & [John] Coltrane [1926-1967]. IMAG.190-231-240-324-468

MEMÓRiA

1907-17JAN1995 - Adolfo Rocha, aliás Miguel Torga: Médico e escritor português - «Matei a lua e o luar difuso. / Quero os versos de ferro e de cimento. / E em vez de rimas, uso / As consonâncias que há no sofrimento.» (Identidade).
IMAG.21-142-165-168-217-261-288-307-342-352

18JAN1925-04NOV1995 - Gilles Deleuze: Filósofo francês - «São os organismos que morrem, não a vida». IMAG.23-368

20JAN1935-2010 - Dorothy Provine: Actriz norte-americana do teatro, do cinema e da televisão, no elenco de O Mundo Maluco (1963 - Stanley Kramer) ou A Grande Corrida à Volta do Mundo (1965 - Blake Edwards). IMAG.300

21JAN1905-1957 - Christian Dior: Estilista francês - «Quero construir vestidos, moldá-los sobre as curvas do corpo. A própria mulher definirá o contorno e o estilo». IMAG.26

22JAN1875-1948 - David Wark Griffith: Cineasta americano - «Não devemos recear a censura, se não pretendemos ofender com impropérios ou com obscenidades… Mas devemos exigir, como um direito, a liberdade de mostrar o lado negro do mal, para podermos iluminar o lado claro da virtude. A mesma liberdade que é concedida à arte de nos expressarmos por palavras, a mesma arte que nos vem da Bíblia ou das obras de Shakespeare». IMAG.22-191-238-332-397

1846-23JAN1905 - Raphael Bordallo Pinheiro: Artista português, pintor, caricaturista, escultor, ceramista, criador do Zé Povinho - «…Não estamos filiados em nenhum partido; se o estivéssemos, não seríamos decerto conservadores nem liberais. A nossa bandeira é a verdade. Não recebemos inspirações de quem quer que seja e se alguém se serve do nosso nome para oferecer serviços, que só prestamos à nossa consciência e ao nosso dever, - esse alguém é um infame impostor que mente» (O Besouro - 1878).
IMAG.22-32-43-59-77-98-115-197-208-242-246-256-304-365-381

ELUCIDÁRiO

Correspondendo à fidelidade e ao culto sofisticado dos leitores adultos, Murena é um clássico em banda desenhada, de fulgor épico, com argumento por Jean Dufaux, sendo ilustrador Philippe Delaby - galardoado com o prémio Clio, por Richard Coeur de Lion (1994). Tudo principia em Roma, pelo ano de 54 DC, estendendo-se a saga pelo tempo e pelo mundo. Um decénio volvido, Murena deixa a Gália e regressa à capital do império - para enfrentar Nero, em conflito inexorável de paixão e fatalidade, de poder e vingança. Com os corações em chamas, a própria cidade corre o risco de incendiar-se… Em quadradinhos, eis uma intriga perturbadora, inexorável, perspectivando a história como conspiração suprema.

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS - Folhetim Aperiódico

ATRAPALHADO NA CARCAÇA O ESCARAVELHO FAZ-SE MORTO - 1

14 de Fevereiro de 1955
Apesar do seu estilo boçal, como abortos da natureza virtualmente atirados para a pedincha, assediando as principais igrejas de Lisboa, tanto Graciosa como o filho Damião tinham qualquer coisa que implicava simpatia e, portanto, estimulava a dar esmola. Estrategicamente, logo após a missa, ela esperava junto à saída dos homens, ele inspirava a generosidade das beatas.
Não havia pai para tal negócio da malquista família Benquerença. Se o tivera Damião, esbatera-se num anonimato social após o frenesim da cópula. Perdida a matriz civil, o bastardo padrão dos Benquerença converteu-se, pois, numa mais-valia marginal.
Continua

segunda-feira, abril 23, 2018

IMAGINÁRiO #498

José de Matos-Cruz | 08 Janeiro 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

TESTEMUNHOS
Genuína ou original, virtual ou iniciática, eis - afinal - a natureza culminante do imaginário, pelo que estimula ou repercute, quanto aos ritmos e aos reflexos da realidade - como múltipla expressão da criatividade, na vertigem exaltante em que tudo é latente e integral. A inquietação e a rotura de Jean-Luc Godard em relação ao cinema, quanto às suas motivações e expectativas, míticas ou convencionais, foram - confirma-se entretanto - uma outra manifestação da sua permanente atitude, em termos absolutos: a investigação da escrita, a pesquisa da técnica, uma nova perspectiva sobre os condicionalismos, compromissos e valores conjunturais da respectiva essência. Tudo isto ligado ao relevo da cultura, à eficácia da ideologia, ao sentido da arte, à subversão estética, ao alcance político ou aos limites sociais que evidenciam uma obra aberta - como reflexão volúvel, ou testemunho em mutação… Nesta obsessão tão pessoal, magnífica e radical - em vanguarda / modernidade, suas marcas de inquietação, insolência e controvérsia - é Godard sensível ao fenómeno da eternidade, expondo / explorando memórias visionárias, precárias mas fascinantes.

MEMÓRiA

08JAN1935-1977 - Elvis Aaron Presley, aliás Elvis Presley: Cantor, músico e actor americano, the King of the Rock and Roll - «Sei, agora, qual é a minha missão - levar alegria à vida das outras pessoas. Elas sofrem em todo o mundo e, cada dia que passa, tudo piora. Não sou um pregador, sou um cantor. É a minha função, e agrada-me muito. Agradeço a Deus ser o que sou, e talvez me esteja reservado algo mais. Talvez Deus queira de mim grandes coisas - sinto isso, e desejo que assim seja». IMAG.20-160-189-322-337-372-416

1887-10JAN1925 - António Maria de Sousa Sardinha, aliás António Sardinha: Poeta e ensaísta português, membro do Integralismo Lusitano - «Urge que, na floresta espessa dos mitos e superstições dominantes, não nos abandonemos cegamente ao encanto bárbaro da aspiração nacionalista. Acentuamos encanto bárbaro, porque, na sua ânsia impetuosa, há na aspiração nacionalista que desvaira a Europa uma força de agressividade primitiva - um total olvido da harmonia que é imperioso restabelecer nas relações dos povos, como assento sólido da Cidade de Deus». IMAG.55

14JAN1925-1970 - Kimitake Hiraoka, aliás Yukio Mishima: Novelista e dramaturgo nipónico - «Foi dos poucos autores japoneses da sua geração que se importou em aprender a falar inglês com fluidez, em parte para promover a sua obra com o fim de conseguir o Prémio Nobel - o que indica que, no mínimo, lhe importava a recepção da sua obra no Ocidente» (Jordi Mas). IMAG.223-254-300

15JAN1795-1829 - Alexander Sergueievitch Griboiedov, aliás Alexander Griboiedov: Dramaturgo, compositor e diplomata russo - «Aquilo que mais devemos recear, é a cólera dos senhores… E, também, a sua afeição»
 
CALENDÁRiO

27SET2013-23FEV2014 - Em Oeiras, Centro de Artes Manuel de Brito/CAMB expõe Luís Noronha da Costa. IMAG.32-405-495

1926-23JAN2014 - Riziero Ortolani, aliás Riz Ortolani: Compositor italiano, distinguido com o Prémio Pipo Barzizza / Carreira (2004), autor da música para filmes de Vittorio DeSica, Dino Rizzi, Franco Zeffirelli ou Quentin Tarantino.

1922-24JAN2014 - Aguinaldo Brito Fonseca, aliás Aguinaldo Fonseca: Poeta cabo-verdiano, autor de Mãe Negra - «A sua poesia retratava o ardor cívico, e expunha firmemente as injustiças sociais» (Grande Enciclopédia Soviética).

1939-26JAN2014 - José Emilio Pacheco: Ficcionista e poeta mexicano, autor de Los Elementos de la Noche (1963), distinguido com o Prémio Cervantes (2009) - «No amo mi patria. / Su fulgor abstracto / es inacesible. / Pero (aunque suene mal) / daría la vida / por diez lugares suyos, / cierta gente, / puertos, bosques de pinos, / fortalezas, / una ciudad deshecha, / gris, / monstruosa, / varias figuras de su historia, / montañas / – y tres o cuatro ríos.» (Alta Traición).

1919-27JAN2014 - Peter Seeger, aliás Pete Seeger: Cantor e compositor americano de música folk - «Educação é o que a leitura nos proporciona; experiência é o que, sem ler, aprendemos».

VISTORiA

Para excitar o coito, triturem-se bagas de loureiro e prepare-se uma confecção das mesmas com suco de satirião; untem-se com isso os rins e as partes genitais; excita poderosamente ao coito. Experimentador.
2. Item fervam-se em azeite eufórbio bagas de loureiro, eruca e raiz de satirião triturados, para ficar um ungüento; untem-se as partes genitais e os rins; excitam admiravelmente o poder de geração. Experimentador.
Pedro Hispano
- Tesouro dos Pobres/Thesaurus Pauperum (excerto)

Desfeitos na poalha álgida da sepultura, nós proclamaremos ainda a revivescência admirável da Grey no sacrifício em que os nossos anos ardentemente se consumirem. É Castela quem o afirma, é Calderon de la Barca quem o afiança. Tão fundo o insigne dramaturgo lera na nossa fereza de povo livre que no Príncipe Constante obrigou o castelhano vernáculo de seiscentos a ceder diante de um verso seu moldado em pura língua de Camões. Esse verso, meus Senhores, somos todos nós - é toda a Pátria amada que estremecemos. Ele, o verso de maravilha, reconhece as razões invencíveis que sustentam Portugal de pé, por muito que os vendavais se desencadeiem sobre as nossas cabeças, como outrora em cima das casquinhas de noz em que dávamos a volta à Esfera. Ele, o verso formidável, reconhece o direito sagrado de Portugal a ser senhor dos seus caminhos e manter-se com honra na assembleia das nações. Saiba-se de cor o verso vingador - o verso como o qual outro não há, bradando tão alto a nossa vitalidade de assombro! A Pátria não morrerá, meus Senhores! E não morrerá, porque nós somos tais - lá diz Calderon de la Barca: Que ainda mortos, somos portugueses.
António Sardinha
- A Teoria das Cortes Gerais (1924 - excerto)

Não foi por cansaço que o tenente finalmente se separou de Reiko. Por um lado, não queria enfraquecer a considerável energia de que necessitava para executar o suicídio. Por outro, não teria gostado de corromper pela saciedade a doçura desses últimos abraços. Ao ver que o tenente se detinha, Reiko seguiu-lhe o exemplo com a docilidade habitual. Nus, estendidos de costas, com os dedos das mãos enlaçados, olhavam fixamente o tecto sombrio.
Yukio Mishima
- Morte Em Pleno Verão (excerto)

ANTIQUÁRiO

01-15JAN1865 - Neste período, a Alfândega grande de Lisboa deixa de auferir a importância de 80:000 réis em direitos, com o tabaco subtraído através do contrabando.

15JAN1845 - O compositor e pianista húngaro Franz Liszt chega a Lisboa, trazendo de França um piano Boisselot & Fils, onde permanece até 25FEV, para vários recitais - um acontecimento que deslumbrou a sociedade portuguesa, sendo aplaudido em delírio no Theatro de São Carlos. Santos Pinto irá dedicar-lhe a sua 8ª Sinfonia (ou Abertura).
IMAG.92-175-203-247-319-337-384-392-394-395-396-410-446-497

ANUÁRiO

1205-1277 - Pedro Julião, ou Pedro Hispano, aliás Papa João XXI: Médico e filósofo, professor e matemático, nascido em Lisboa, autor de Tesouro dos Pobres/Thesaurus Pauperum: «Coligi fielmente todos os que pude encontrar, nos livros dos antigos físicos e mestres e modernos experimentadores». IMAG.36

PARLATÓRiO

A acção tem o misterioso poder de concentrar uma larga vida na explosão de um fogo de artifício. Se tendemos a honrar quem dedicou toda a sua vida a uma única tarefa, o que é justo, a verdade é que quem incendeia toda a sua vida num fogo de artifício, que dura um instante, testemunha com maior precisão e pureza os valores autênticos da vida humana.
Yukio Mishima

BREVIÁRiO

Films4You edita em DVD, Fim de Semana / Week End (1967) de Jean-Luc Godard, com Mireille Darc e Jean Yanne; e Tudo Vai Bem / Tout Va Bien (1972) de Jean-Luc Godard, com Yves Montand e Jane Fonda. IMAG.118-167-191-314-368

JumpCut edita em Livro e DVD, Nada Tenho de Meu (2012) de Miguel Gonçalves Mendes, Tatiana Salem Levy e João Paulo Cuenca. IMAG.17-123-175-189-331-419-475

Afrontamento edita Ecos, Reflexos, Miragens: Poemas de Robert Bréchon (1920-2012); tradução de Maria João Fernandes e Caroline Mascarenhas.

Universal edita em CD, sob chancela Decca, Norma de Vincenzo Bellini (1801-1835) por Cecilia Bartoli e Sumi Jo, com Orchestra La Scintilla sob a direcção de Giovanni Antonini. IMAG.249

Assírio & Alvim edita Manifesto Anti-Dantas e Por Extenso por José de Almada Negreiros (1893-1970), Poeta d’Orpheu Futurista e Tudo.
IMAG.84-135-154-173-224-278-292-305-371-413

EMI edita em CD, Igor Stravinsky [1882-1971]: Le Sacre du Printemps por Berliner Philharmoniker, sob a direcção de Simon Rattle. IMAG.186-302-317-324-375

Planeta Tangerina edita Irmão Lobo de Carla Maia de Almeida (texto) e António Jorge Gonçalves (ilustrações). IMAG.19-169-183-195-227-252-292-296-310-342-356-430-433

Divisa edita em DVD, Viagem à Lua / Voyage Dans la Lune (1902) de Georges Méliès. IMAG.36-61-163-350-397

Assírio & Alvim edita A Paixão de Almeida Faria. IMAG.463

domingo, abril 22, 2018

IMAGINÁRiO #497

José de Matos-Cruz | 01 Janeiro 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

CREPÚSCULOS
Em 1998, um dos mais prestigiados artistas europeus da banda desenhada, Enki Bilal sonda O Sono do Monstro - iniciando a tetralogia Monstro, concluída em 2007, sobre a terra onde nasceu, Jugoslávia. Testemunho impressionante de uma memória colectiva, latente e solitária - que Enki dedica «a meu pai, filho de Ljubuški» - através das imagens fragmentárias, devastadas sobre a realidade nacional algures perdida e presente, entre o sortilégio do passado e os dilemas do futuro. História e fantástico, símbolos e ideais, armadilhas e perversões reflectiriam, em sua conexão temporal, a própria corrupção ou vulnerabilidade do ser humano - cujo crepúsculo se transcende além do horror e da morte, em momentos trágicos de um apocalipse bélico. Nostalgia, decepção, vingança, remorso, fundem-se pela densidade narrativa, a intensidade dos conflitos - estigmatizados num traço subtil, quanto à expressiva transparência sobre cenários e paisagens… Argumentista, ilustrador e colorista, Bilal confirma o seu talento perturbante, inquieto mas emocionante como criador, transcendendo uma arquitectura onírica, nocturna elegia entre a liberdade e a opressão, nas virtualidades épico-dramáticas do imaginário. IMAG. 11-53-60-303-312-401

CALENDÁRiO

JAN2014 - Nos EUA, Feral de Daniel Sousa é nomeado ao Oscar para a Melhor Curta Metragem de Animação.

JAN2014 - O fanzine BDLP # 3 é seleccionado para o Prix de la Bd Alternative, a atribuir pelo 41º Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, entre 30JAN e 02FEV. IMAG.452

07OUT1934-09JAN2014 - Everett LeRoi Jones, aliás Amiri Baraka: Ficcionista, poeta, dramaturgo e crítico musical americano: «No Ocidente, Deus foi substituído pela respeitabilidade e pelo ar condicionado».

1933-20JAN2014 - Claudio Abbado: Maestro italiano, com carreira internacional (La Scala de Milão, Sinfónica de Londres, Sinfónica de Chicago, Ópera de Viena, Filarmónica de Berlim) - «A educação musical é, na realidade, a educação do homem».
IMAG.217-220-229-285-296-318-327-449-452-490

24JAN-06ABR2014 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Portugal - Lugares Ilustrados de Catarina Cardoso.

NOTICIÁRiO

Água Vai
Deitaram ontem sobre a cabeça do senhor João de Andrade um caco, restos de uma bilha, contendo um líquido qualquer desagradável, isto sem o prévio aviso dos bons tempos da «água vai», facto contra o qual se rebelou a vítima, reclamando a intervenção da polícia em favor das suas imunidades e da sua higiene.
01JAN1881 - Diário de Notícias
VISTORiA

Os Homens Ocos
Um péni para o Velho Guy

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dissecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada.

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos rectos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.
T.S. Eliot
(excerto - Tradução de Ivan Junqueira)

VISTORiA

Muitas vezes, os nossos erros beneficiam-nos mais do que os nossos acertos. Os sucessos enchem o coração de uma perigosa presunção; os fracassos obrigam o homem a recolher-se em si mesmo, e devolvem-lhe aquela prudência de que as façanhas o privaram.
François Fénelon
- Les Aventures de Télémaque (excerto)



Segunda Em Si Bemol

Posso rezar
o dia inteiro
& Deus
nem ui, nem ai.

Mas se eu ligo
190
o Diabo
aparece logo.
Vejam lá!
Amiri Baraka
BREVIÁRiO

Naxos edita em CD, Leonard Bernstein [1918-1990]: Transcriptions For Wind Band por Wind Ensemble/University of South Carolina, sob a direcção de Scott Weiss. IMAG.266-297-395

Assírio & Alvim edita As Novas Mil e Uma Noites de Robert L. Stevenson (1859-1894); tradução de José Domingos Morais.  
IMAG.1-35-41-151-187-257-260-298-345-423-454-493

EMI edita em CD, Franz Liszt [1811-1886]: Transcriptions - [Camille] Saint-Saëns [1835-1921], [Niccolò] Paganini [1782-1840], [Franz Peter] Schubert [1797-1828], [Richard] Wagner (1813-1883) pelo pianista Niu Niu / Zhang Shengliang.
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Distrirecords edita em CD, sob chancela Brilliant Classics, Franz Liszt [1811-1886]: The Complete [Richard] Wagner [1813-1883] & [Giuseppe] Verdi [1813-1901] Transcriptions pelo pianista Michele Campanella.
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INCM/Imprensa Nacional - Casa da Moeda edita O Regicida de Camilo Castelo Branco (1825-1890).
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ANTIQUÁRiO

01JAN1865 - Na roda dos expostos do Porto, existem 33 crianças.

07JAN1785 - O inventor francês Jean-Pierre Blanchard e o médico americano John Jeffries efectuam a primeira travessia do Canal da Mancha num balão a gás, entre Dover Castle e Guînes, tendo demorado cerca de duas horas e meia.


NOTICIÁRiO

Uma Descida de Balão
O aeronauta francês Leon Acri, que ultimamente fez em Moscow algumas ascensões de balão, n’um dos dias em que subiu deixou-se cair da altura de 1.000 metros, apenas amparado por um pára-quedas da sua invenção.
29JUN1890 - Diário de Notícias

MEMÓRiA

1817-03JAN1875 - Pierre Athanase Larousse: Filólogo, enciclopedista, pedagogo e editor francês. Divisa pessoal: «Instruir toda a gente e sobre todas as coisas». Original divisa da chancela editorial dos dicionários e enciclopédias: «Je sème à tout vent». IMAG.112

04JAN1785-1863 - Jacob Ludwig Karl Grimm, aliás Jacob Grimm: Escritor alemão, com Wilhelm Grimm, conhecidos como Irmãos Grimm - autores de Grande Dicionário Alemão, coligiram fábulas infantis e relatos fantásticos - «Hoje a alegria é minha, / Meu é o filho da rainha. / Ninguém sabe além de mim / Que eu sou Rumpelstilsequim» (Rumpelstilsequim - excerto).
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1888-04JAN1965 - Thomas Stearns Eliot, alias T.S. Eliot: - Poeta e dramaturgo inglês - «Nunca cessaremos de explorar e, ao fim da nossa exploração, voltaremos ao ponto de partida, como se nada tivéssemos conhecido». IMAG.196

05JAN1885-1932 - King Camp Gilette: Inventor americano, vendedor de ferramentas, concebeu a gilette - lâmina de barbear descartável, a baixo preço, tendo fundado em 1903 a Gillette Safety Razor Company. IMAG.378

05JAN1925-2009 - Jean-Paul Roux: Autor francês, especialista em cultura islâmica - «Uma palavra resume e define a rota medieval: o perigo. Por toda a parte, no seu percurso, riscos, a incerteza do amanhã. Perigo dos homens, perigo da natureza, rigores do clima, privação. Perigos previstos, imaginados, temidos, mas aceitos; nos primeiros tempos misteriosos, desconhecidos, depois, quando se está mais bem informado pelos que retornaram, perigos avaliados, medidos, analisados, menos temidos, porque se sabe mais como preservar-se. Iguais de resto dos dois lados, no Extremo-Oriente e no Ocidente, mais agudos somente no no man’s land que os separa». IMAG.258

1651-07JAN1715 - François de Salignac de La Mothe-Fénelon, aliás François Fénelon: Escritor francês, teólogo católico - «Aqueles que nunca sofreram, não sabem nada; não conhecem nem os bens nem os males; ignoram os homens; ignoram-se a eles próprios… Antes de buscarmos o perigo, torna-se indispensável prevê-lo e temê-lo; mas, quando nele estamos inseridos, só nos resta desprezá-lo». IMAG.336