quarta-feira, março 07, 2018

IMAGINÁRiO #471

José de Matos-Cruz | 16 Junho 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

EXCENTRICIDADES
A irresistível e felina Pantera Cor-de-Rosa, que o cinema de animação tornou célebre, é também o nome dado a um diamante zelosamente protegido, em imagem real, pelo incrível inspector Jacques Clouseau - numa série dirigida pelo realizador britânico Blake Edwards, e que atingiu extraordinária aceitação entre o público aderente ao humor policial. Peter Sellers revela-se insuperável na encarnação do arrogante, sinistro, melómano, fanático, aselha e sensacional Clouseau. Agindo ou reagindo às estapafúrdias do seu abominável chefe Dreyfus, alvo de vingança por maquiavélicos criminosos e espiões, dando largas a sofisticados mas inexoráveis planos de perseguição, Clouseau é o herói relutante e impossível, que subverte o quotidiano e baralha os caprichos entre o bem e o mal, por meio de disfarces, manha e sorte desconcertantes, acabando por destruir as mais incríveis ameaças. Eficaz, sarcástico e mordaz, Blake Edwards suscita ainda referências/homenagens a filmes e a géneros que sagraram o culto e o sucesso da sétima arte em geral.

CALENDÁRiO

22JUN-14SET2013 - Em Lisboa, Fundação Carmona e Costa - Espaço Arte Contemporânea expõe Sem Data de Thierry Simões, sendo curador Nuno Faria. IMAG.399

1929-26JUN2013 - Bertram Stern, alias Bert Stern: Fotógrafo americano, captou A Última Sessão / The Last Sitting de Marilyn Monroe (1962) para a revista Vogue - «O desejo de a fotografar deve ter começado há muito tempo atrás. Era, simplesmente, a semente de uma ideia à espera do seu tempo. Então, em 1962, tinha suficiente confiança e respeito por mim próprio como fotógrafo para a enfrentar. Tornara-me já mestre na minha arte - a de ver - e estava à altura da sua mestria de ser vista. Era o momento certo». IMAG.360

27JUN2013 - ZON Audiovisuais estreia Bairro de Jorge Cardoso, Lourenço de Mello, José Manuel Fernandes e Ricardo Inácio; com Maria João Bastos e Paulo Pires.

27JUN2013 - Columbia Tristar Warner estreia Homem de Aço / Superman: Man of Steel de Zack Snyder; com Henry CavillAmy Adams, sobre o herói criado em quadradinhos (1938) por Jerry Siegel e Joe Shuster. IMAG.14-20-27-109-141-183-193-217-226-276-373-387

29JUN-31DEZ2013 - Em Lisboa, Museu Nacional do Teatro e Museu do Fado expõem O Fado e o Teatro. IMAG.386

11JUL-22SET2013 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Tributo a José Viana [1922-2003] - Evocação da Obra do Pintor. IMAG.397-402

MEMÓRiA

1517-19JUN1584 - Francisco de Holanda: Escritor e ensaísta português, arquitecto e pintor, bolseiro em Roma, discípulo de Miguel Ângelo, vulto do Renascimento, autor de Da Fábrica Que Falece à Cidade de Lisboa.

1909-19JUN2004 - Óscar Ribas: Escritor, poeta, jornalista e ensaísta angolano, autor de Tudo Isto Aconteceu (1975) - «Foi a principal biblioteca viva, porque tinha um saber e um conhecimento da nossa maneira de estar no mundo quase únicos» (Botelho de Vasconcelos). IMAG.232

02JUN1944-2012 - Marvin Hamlisch: Compositor americano, autor de música para teatro (como A Chorus Line - 1975) e cinema (como O Nosso Amor de Ontem / The Way We Were - 1973 de Sydney Pollack) - «Comecei a tocar piano aos cinco anos e meio». IMAG.420

VISTORiA

Lisboa onde todos os que bebem água, não tem mais de um estreito chafariz para tanta gente… Deve de trazer a Lisboa Água Livre que de duas léguas dela trouxeram os Romanos, por condutas debaixo da terra, subterrâneos furando muitos montes e com muito gasto e trabalho…
Francisco de Holanda
- Da Fábrica Que Falece à Cidade de Lisboa (1571 – excerto)

TRAJECTÓRiA

MANDRAKE, O MÁGICO

Na banda desenhada norte-americana, pelos rumos da aventura, dois criadores fundamentais influenciaram a história dos heróis ao longo de décadas, reflectindo-se ainda com um culto mutante entre os leitores: Alex Raymond - sobretudo por Flash Gordon e Rip Kirby; Lee Falk - com os essenciais Mandrake the Magician e The Phantom.
E, no entanto, eis dois autores muito distintos - em talento e inspiração: Raymond versátil, solar; Falk obscuro, fixo. O primeiro convertia uma imaginação exuberante, gráfica, sobre os horizontes realistas ou fantásticos; Falk era um narrador primordial, inspirado em cultos ancestrais, lendários de variegadas civilizações e exotismos.
Por outro lado, a partir destes conceitos e destes símbolos fundamentais, Falk provou possuir - também - um engenho fértil e distinto. Bastaria observar as características que contrastam Mandrake e o Fantasma, praticamente num recorte de oposição entre si. Aliás, ambos evoluíram ao longo dos anos, com as respectivas sagas.
Em cumplicidade com os leitores próprios, Falk suscitou também dois encontros - alusivos a uma velha amizade entre si - de Mandrake e Fantasma, em momento de excepcional importância na vida de cada um: o casamento - do Homem-Mascarado, Kit Walker com Diana Palmer em 1977; e de Mandrake com a princesa Narda, em 1997-98.
Afinal, este seria celebrado com toda a pompa, em três ritos diferentes - correspondentes às origens dos noivos e ao país de acolhimento para ambos: em Cockaigne (a 23 de Outubro), perante o rei Segrid (irmão de Narda); no Colégio de Magia (a 9 de Janeiro), por Theron (pai de Mandrake); por último, na América (a 27 de Maio).
O Fantasma esteve entre os convidados em Xanadu, tendo evitado - com a sua habitual eficácia e discrição - mais um atentado à bomba contra Mandrake; outros perturbaram as cerimónias anteriores, praticados por terroristas e por Lucifer, o vingativo meio-irmão de Mandrake! Mas tudo acabou bem, até chegarem novos desafios...
Lee Falk (1912-99) iniciou os prodígios de Mandrake em 11 de Junho de 1934 (The New York American Journal), dois anos antes de explorar as proezas do Duende Caminhante na selva de Bengalla. O nome do herói foi plagiado de William Shakespeare, que usa o termo mandrake para definir as virtudes mágicas da raiz de mandrágora.
Um paladino que combate a criminalidade e a perversão, através dos seus extraordinários poderes hipnóticos (que, mais tarde, se expandiriam cosmicamente, graças ao Cubo de Cristal), logo teve um sucesso popular. Muito contribuiria, ainda, um aspecto iconoclasta - o bigode e a brilhantina no cabelo, ou o traje de gala - capa, fraque, bengala…
Além da famosa cartola - que, nos anos ‘70, salvo erro em Madrid, Falk me confessou mal saber desenhar, como até provou com uns rabiscos tortos. Para os enredos, o escritor referia uma paixão por Fu-Manchu de Sax Rohmer. Citava ainda Sherlock Holmes e Arsene Lupin, ou mesmo o seu juvenil fascínio pelos ilusionistas de circo.

Rectificava Falk, a sugestão do nome Mandrake retirara-a dum poema do Século XVI, do inglês John Donn. O modelo físico teria sido ele próprio - fielmente seguido pelo ilustrador Phil Davis e ajudantes, até à morte em 1964. Depois, Fred Fredericks manteve o essencial, estilizando embora as personagens e a dinâmica narrativa ou cénica.
Falk apreciava a virtualidade de Mandrake voar, ou atravessar continentes com um elã mental, sem distorcer a plausibilidade e a coerência das peripécias. Mas sublinhava a importância dos seus companheiros - a bela e caprichosa Narda, ou Lothar, um gigantesco monarca africano que tudo abandonara para servir o amigo e mestre.
Elemento aliciante, na saga de Mandrake - que em Portugal, durante a década de ‘50, foi rebaptizado como D. Enigma, por força da censura - persiste numa reminiscência medieval do combate supremo e perene das luzes contra as trevas. Daí, o sortilégio ao descobrir o parentesco com Lucifer, ou Cobra, a sua pérfida e eterna nemésis.
Em 1956, ao focar uma revista de Mandrake, no seu magnífico documentário Toda a Memória do Mundo, Alain Resnais conferiu-lhe - e aos quadradinhos - uma relevância excepcional entre os valores a preservar da Humanidade. Lamentavelmente, um mito que o cinema não logrou transfigurar, tal como ambicionava Federico Fellini. IMAG.70-218-320-463

INVENTÁRiO


É no Teatro e com o Teatro que o Fado se constitui como um domínio musical de grande destaque na memória cultural portuguesa. Saído do ambiente restrito dos prostíbulos e das tabernas ou dos salões da aristocracia e da alta burguesia mais boémia, a sua integração no teatro, na segunda metade do Século XIX, traz-lhe a consagração popular, institucionalizando-o do ponto de vista artístico e transformando-o, em definitivo, na canção da cidade de Lisboa.
Mas é a personagem mítica da Severa que, entre o final do Século XIX e as primeiras décadas do Século XX, se transforma numa figura transversal a todas as artes, como a pintura, o cinema, a fotografia, a música, a dança e, sobretudo, o teatro, convertendo-se na personificação do próprio fado.
A primeira vez que o fado surge nos palcos dos nossos teatros foi em 1869, no Teatro da Trindade, com a comédia Ditoso Fado, sendo também a primeira vez que um comediante, no caso o actor Taborda, cantava, em cena, algumas quadras em jeito de fado, acompanhado ao vivo por uma guitarra.
A exposição O Fado e o Teatro nasceu a partir da conjugação do acervo do Museu Nacional do Teatro e do Museu do Fado, pensada, produzida e enquadrada no âmbito da declaração do Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade. 
 
BREVIÁRiO

MGM edita em DVD, a colecção A Pantera Cor-de-Rosa de Blake Edwards, com Peter Sellers; inclui A Pantera Cor-de-Rosa /The Pink Panther (1963), Um Tiro às Escuras / A Shot In the Dark (1964), A Pantera Volta a Atacar /The Pink Panther Strikes Again (1976), A Vingança da Pantera Cor-de-Rosa /Revenge of the Pink Panther (1978) e Na Pista da Pantera Cor-de-Rosa /Trail of the Pink Panther (1982). IMAG.14-429

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