sexta-feira, fevereiro 23, 2018

IMAGINÁRiO #464

José de Matos-Cruz | 24 Abril 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

VERTIGENS
Algures, na noite dos tempos, uma memória que remonta à lendária Idade Média: Uther - monarca dos Celtas, graças aos prodígios e símbolo de Poder que lhe confere Excalibur, a espada maravilhosa recebida da Dama do Lago, devido à interferência do druida Merlin - deixa-se vencer pelo desejo de posse da mulher de um inimigo, prejudicando assim os anseios de unidade, agravado pela ameaça de constantes invasões. Prestes a morrer, Uther crava Excalibur num rochedo, de onde só poderá ser arrancada, segundo Merlin, por aquele que «deve ser rei». Muitos anos depois, Arthur - nascido dos amores de Uther por Igrayne - recupera a espada, que faz dele um soberano. Agindo com coragem e sensatez, Arthur impõe a paz e cria a comunidade dos cavaleiros da Távola Redonda. Todavia, um dos seus pares, o corajoso Lancelot apaixona-se pela rainha Guenevere, e essa relação faz estalar de novo a discórdia e a violência, instigadas pela feiticeira Morgana, meia-irmã de Arthur. Só a coragem e o heróico sacrifício dos guerreiros da Távola Redonda podem exorcizar a maldição, e restabelecer a harmonia, pela demanda do Santo Graal…
Em Excalibur (1980), a partir de La Mort d’Arthur de Thomas Malory, John Boorman culminou um projecto antigo, de levar ao ecrã as sagas e proezas de uma época historicamente indeterminável, e que se liga às origens brumosas do ideal de bravura e honra da cavalaria. Obra de pleno fascínio, visual e sonoro, Excalibur anuncia, ainda, o limiar da Idade do Homem, sucedendo ao domínio das forças obscuras ou sobrenaturais.

MEMÓRiA

23ABR1564-1616 - William Shakespeare: Dramaturgo e poeta inglês - «Algum desgosto prova muito amor, mas muito desgosto revela demasiada falta de espírito» (Romeu e Julieta).
IMAG.26-79-131-141-146-164-179-202-232-239-322-326-342-366-377-387-404-410-415-443-457

25ABR1854-1912 - Jules Henri Poincaré: Filósofo, matemático e físico francês - «Duvidar de tudo, ou em tudo acreditar, são duas soluções igualmente cómodas, que nos dispensam, ambas, de reflectir». IMAG.126-379

25ABR1874-1937 - Guglielmo Marconi: Físico italiano, inventor da telegrafia sem fios - «Só progredimos, quando estamos cientes de que poderemos ir muito mais além». IMAG.139

1880-25ABR1944 - George Herriman: Artista norte-americano de banda desenhada, ilustrador e caricaturista, autor de Krazy Kat (1913-1944) - «A mais engraçada e fantástica e estimulante obra de arte produzida na América hoje» (Gilbert Seldes - 1924). IMAG.124-309

28ABR1874-1936 - Karl Kraus: Dramaturgo, poeta e ensaísta austríaco - «O segredo do demagogo é fazer-se passar por tão estúpido quanto a sua plateia, para que as pessoas imaginem ser tão espertas quanto ele próprio».

28ABR1914-2011 - Michel Mohrt: Romancista francês, ensaísta e editor, especialista em literaturas anglo-saxónicas (1986) - «Devemos fazer coisas loucas com a máxima prudência». IMAG.371

29ABR1884-1960 - Jaime Cortesão: Escritor e historiador português - «Ao dealbar do Século XII, o povo ocupou toda a costa e criou o género de vida nacional, a Nação organizou-se em função marítima e, por esse esforço de massas, Portugal começou a viver de vida própria». IMAG.285-302-333-342-448

30ABR1914-2008 - Dorival Caymmi: Cantor, compositor, poeta e pintor brasileiro - «Se eu pensar em música brasileira, eu vou sempre pensar em Dorival Caymmi. Ele é uma pessoa incrivelmente sensível, uma criação incrível. Isso sem falar no pintor, porque o Dorival também é um grande pintor» (Tom Jobim). IMAG.211

30ABR1944-2010 - Jill Claybourgh: Actriz americana de teatro e cinema - «As personagens que interpreto melhor, no ecrã, são as que, em termos emocionais, estão a desfazer-se a olhos vistos».IMAG.331

1890-30ABR1954 - Raul Ferrão: Militar de carreira, compositor e maestro português, autor de Abril Em Portugal - «Menção paradigmática de uma certa forma de fazer música popular… É espantoso como muitas melodias tenham resistido à erosão do tempo e às modulações das épocas» (Baptista-Bastos). IMAG.417

VISTORiA

Salanio: Podeis crer-me, senhor: se eu tivesse tanta carga no mar, a maior parte das minhas afeições navegaria com as minhas esperanças. A toda a hora arrancaria folhinhas de erva, para ver de onde sopra o vento; debruçado nos mapas, procuraria sempre portos, embarcadoiros, rotas, sendo certo que me deixaria louco, tudo o que me tornasse apreensivo pela sorte do meu carregamento.
William Shakespeare
- O Mercador de Veneza - Acto I (1596-1597, excerto)

Cartas à Mocidade

És moço. O teu desejo inquieto sonha os destinos grandiosos. Chegaste à encruzilhada dos mil caminhos. E hesitas? É à tua incerteza que eu desejo falar. Com que direito? Estou a ouvir que me perguntas. Venho de percorrer muitos dos caminhos do mundo. Mas, através de hesitações e quedas, sempre a luz me bateu de frente sobre o rosto. Já me sacrifiquei pelos homens todos, pela beleza da vida. Posso falar. E falo-te tanto pelo pesar dos erros, como pela alegria das boas obras realizadas.
Eu sei que à tua beira se abrem os caminhos fáceis e sedutores. Se és ambicioso, podes ganhar glória, dinheiro e poderio, com pequeno custo. Escritor, basta-te lisonjear o mau gosto do público e as suas piores inclinações. Político, enfileiras nos partidos e dobras-te às imposições das clientelas. Jornalista, serves as oligarquias do dinheiro e as paixões populares. Profissional, abres balcão e fazes da tua profissão apenas um negócio. És, enfim, um habilidoso animado pela cupidez: oprimes os fracos, abusas da ignorância, aproveitas as condescendências da moral comum, exploras a miséria, a estupidez ou os vícios humanos, e depressa chegarás aos fastígios ilusórios que não alcançam os que trabalham com esforço rude e com desejo de Justiça.
Jaime Cortesão
- Seara Nova - Nº 3 (1921, excerto)

Acalanto

É tarde
A manhã já vem
Todos dormem
A noite também
Só eu velo
Por você, meu bem
Dorme anjo
O boi pega Neném
Lá no céu
Deixam de cantar
Os anjinhos
Foram se deitar
Mamãezinha
Precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai lhe ninar
«Boi, boi, boi,
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta»
Dorival Caymmi

COMENTÁRiO

As Óperas de Paula Rego

A dimensão pluridisciplinar da ópera é, na essência, conjugadora de formas e recursos expressivos que enriquecem o modo como se contam histórias.
A selecção destas histórias por Paula Rego, para figurarem nas suas obras, foi realizada em total coerência com a pesquisa pictórica que a artista vinha desenvolvendo: o drama das relações humanas, sem artifícios nem heróis.
São elas The Girl of the Golden West (obra destruída num incêndio), e La Bohème, ambas de Giacomo Puccini; Aida, Rigoletto, Falstaff, La Traviatta, de Giuseppe Verdi; Fausto de Charles Gounod; Carmen de Georges Bizet, e Jenufa, de Leoš Janácek. As obras criadas pela artista a partir destas óperas são o depósito residual de muitas das histórias que aí se contam; são comédias e tragédias, em que os humanos interagem com animais, em enredos complexificados e justapostos.
Com As Óperas ficaram estabelecidos novos princípios actuantes introduzidos na linguagem visual de Paula Rego, que multiplicam as personagens e repetem elementos formais, explorados numa unidade temática e estilo inconfundível.
Esta nova forma de comunicar visualmente as suas histórias e imagiconografia (termo criado por Victor Willing) ganhará um novo fôlego nas pinturas realizadas durante os anos de 1984 e 1985 e, em particular, nas suas séries Vivian Girls e Dentro e Fora do Mar que recuperam e intensificam a cor enquanto elemento estruturante da composição, aumentam a escala dos personagens e conferem à pintura força e gestualidade até antes não atingidas.
Catarina Alfaro

O Campeão do Mundo Ocidental de J.M. Synge

Sempre gostei das peças em que se abre uma porta. Aqui, quem entra pouco, depois de se levantar o pano, é mesmo inesperado. Atrapalhado, tímido, receoso, inseguro, olhando para todos os lados, aquele rapaz roto e sujo traz consigo mentiras, fantasias, histórias que vai inventando à nossa frente. Não é isso a vida…?
Jorge Silva Melo

CALENDÁRiO

16MAI2013 - Teatro Nacional de D. Maria II estreia na Sala Garrett, com Artistas Unidos, O Campeão do Mundo Ocidental de J.M. Synge; com Elmano Sancho e Maria João Pinho, sendo encenador Jorge Silva Melo.

1921-16MAI2013 - Fred Funcken: Argumentista e ilustrador belga, autor de banda desenhada, colaborador dos jornais Spirou e Tintin e especialista em uniformologia, tendo assinado Harald, o Vicking ou Jack Diamond.

17MAI-29SET2013 - Em Cascais, Casa das Histórias Paula Rego expõe As Óperas e a Colecção Casa das Histórias de Paula Rego, sendo curadora Catarina Alfaro.
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BREVIÁRiO

Warner edita em Blu-ray, Excalibur (1980) de John Boorman; com Nigel Terry e Helen Mirren.
 

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