PRONTUÁRiO
NARRATIVAS
Na
sequência de uma pesquisa para a dissertação de Mestrado em
Estudos do Texto, Maria de Lurdes Castanheta Pelarigo organizou a
Colectânea
de Contos Para a Criança Na Imprensa Portuguesa do Século XIX,
editada em dois volumes por Apenas Livros, na colecção Letra
Pequena, Letra Maior. Durante um ano e meio, Lurdes Pelarigo
consultou, na Biblioteca Nacional, inúmeros jornais e revistas. Mas
só alguns se revelaram úteis para a investigação, pois o que lhe
interessava eram escritos indubitavelmente para a criança,
considerando, além disso, que só fazia sentido recolher textos que
fossem originais e de autores portugueses. A recolha foi efectuada em
seis jornais: Ramalhetinho
de Puerícia,
Branco
e Negro,
Jornal
das Crianças,
O
Amigo da Infância,
O
Mundo Em Casa
e Recreação
Familiar,
num total de 43 contos. Nestes, e para além de anónimos,
encontramos nomes consagrados como os de Ana de Castro Osório ou
Henrique Marques Júnior. Eis uma obra estimulante e indispensável,
tanto para estudiosos da literatura para a infância e a juventude,
como para todos os leitores em geral.
MEMÓRiA
1912-01ABR1994
- Robert Doisneau: Fotógrafo francês, autor de O
Beijo No Hotel de Ville
(revista Life,
1950) - «A capacidade visual das pessoas é agora muito mais
sofisticada, muito mais desenvolvida, particularmente entre os
jovens, pelo que poderemos criar uma imagem que apenas sugira algo, e
permita significar o que quisermos». IMAG.311-366
03ABR1924-01JUL2004
- Marlon Brando: Actor americano, de teatro e cinema - «Suponho que
a história da minha vida é uma busca de amor - mas, mais do que
isso, fui à procura de um caminho próprio para reparar os danos que
sofri desde o início, bem como definir a minha obrigação, se eu
tivesse alguma, para mim e para minha espécie».
IMAG.2-35-48-93-122-205-266-315-381-436
1906-03ABR1994
- Agostinho da Silva: Filósofo, ensaísta e pedagogo português - «O
compromisso pode tornar-se necessário para que a vida se mantenha;
mas já essa mesma vida é grande e bela só quando, pelo menos,
tende à rigidez das regras absolutas; e a superioridade das nações,
a superioridade que há-de acabar por triunfar, consiste no maior
número de espíritos que são capazes de optar pela norma quando ela
se encontra em conflito com a vida» (Considerações
- excerto).
IMAG.20-71-144-158
04ABR1914-1996
- Marguerite Donnadieu, aliás Marguerite Duras: Escritora francesa,
e cineasta - «Se não se passou pela obrigação absoluta de
obedecer ao desejo do corpo, isto é, se não se passou pela paixão,
nada se pode fazer na vida».
06ABR1934-2008
- Guy Peellaert: Pintor, ilustrador, fotógrafo e autor de banda
desenhada, criador de Les
Aventures de Jodelle
(1966) e Pravda,
la Survireuse (1968) -
«Reconhece-se um eco profundamente universal no seu humor corrosivo,
na sua sátira do mundo mecanizado, da sociedade de consumo e dos
falsos sentimentos que ela engendra» (Henry Chapier). IMAG.225
1541-07ABR1614
- Doménikos Theotokópoulos, aliás El Greco: Pintor, escultor e
arquitecto grego - «Em suma, tornou-se a essência da pintura grega,
para os gregos; para os espanhóis, tornou-se a própria essência da
arte espanhola» (Michael Kimmelman). IMAG.81-196-310
CALENDÁRiO
18ABR-14JUL2013
- Em Lisboa, Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva expõe Estes
e Outros Encontros - com
obras de Helena Almeida, Lourdes Castro, Rui Chafes, Ana Hatherly,
Ana Jota, Vítor Pomar, António Poppe, Rui Sanches e Vieira da
Silva, das colecções da Fundação Luso-Americana e da Fundação
Arpad Szenes - Vieira da Silva.
18MAI-29SET2013
- Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/MNAA expõe A
Encomenda Prodigiosa - Da Patriarcal à Capela Real de São João
Baptista, em parceria com o
Museu de São Roque e a Patriarcal de Lisboa.
25ABR2013
- ZON Lusomundo estreia Homem
de Ferro 3 / Iron Man 3 de
Shane Black; com Robert Downey Jr e Gwyneth Paltrow, sobre o
super-herói concebido por Stan Lee & Don Heck (1963), para os
Marvel Comics.IMAG.80-114-141-183-199-448
INVENTÁRiO
Não
me faria feliz ver uma mulher bem proporcionada e bonita - não
importa sob qual aspecto, ainda que extravagante… Ela não só
perderia a sua beleza e proporção, diria eu, caso, de acordo com as
leis da visão, fosse ampliada em tamanho, como não mais pareceria
esbelta e, na verdade, ter-se-ia tornado monstruosa.
El
Greco
ANUÁRiO
1907-1974
- Francisco da Cunha Leão: Escritor, director do Diário
Popular (1953-1958), autor de
O Enigma Português
(1960) e de Ensaio de
Psicologia Portuguesa (1971)
- «Povo mesclado, poliétnico, porventura dos contingentes francos e
romanos lhe adveio a quota-parte sanguínea, dos nórdicos algo de
fleuma, e dos mediterrâneos e arábicos a emotividade primária,
movediça de muitos dos seus homens».
VISTORiA
Encarar
a Morte
É
talvez sinal de prisão ao mundo dos fenómenos o terror e a dor ante
a chegada da morte ou a serena mas entristecida resignação com que
a fizeram os gregos uma doce irmã do sono; para o espírito liberto
ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e passageira; não
morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e
pela ideia, não é mais existente, para o que se soube desprender da
ilusão, o que lhe fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender
que apenas se lhe apresenta em pensamento; e tanto mais alto
subiremos quando menos considerarmos a morte como um enigma ou um
fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre as formas.
Agostinho
da Silva
-
Diário de Alcestes
(1945 - excerto)
É
notável a galeria dos apaixonados e importante a sua participação
nos eventos primaciais da história portuguesa. Quer nas vastas
concepções e porfiadas empresas, como até na correcção dos
nossos defeitos, enquadrando nervosos e coléricos.
Francisco
da Cunha Leão
-
Ensaio de Psicologia
Portuguesa (1971 - excerto)
Um
dia, já eu era velha, um homem dirigiu-se a mim à entrada de um
lugar público. Deu-se a conhecer e disse-me: «Conheço-a desde
sempre. Toda a gente diz que você era bonita quando era nova, vim
dizer-lhe que, para mim, acho-a mais bonita agora do que quando era
jovem, gostava menos do seu rosto de mulher jovem do que
daquele que tem agora, devastado.»
Penso
frequentemente nesta imagem, que sou a única a ver ainda e de que
nunca falei. Está sempre aí no mesmo silêncio, deslumbrante. É,
de todas, a que me agrada de mim própria, onde me reconheço, onde
me encanto.
Muito
cedo na minha vida foi tarde de mais. Aos dezoito anos era já tarde
demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos, o meu rosto partiu
numa direcção imprevista. Aos dezoito anos, envelheci. Não sei se
é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido
falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes, quando
atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este
envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um,
alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o
olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas
profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do
meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de
uma leitura. Sabia também que não me enganava, que um dia ele
abrandaria e retomaria o seu curso normal. As pessoas que me tinham
conhecido aos dezassete anos, aquando da minha viagem a França,
ficaram impressionadas quando me voltaram a ver, dois anos depois,
aos dezanove anos. Conservei esse novo rosto. Foi o meu rosto.
Envelheceu ainda, evidentemente, mas relativamente menos do que
deveria. Tenho um rosto lacerado de rugas secas e profundas, a pele
quebrada. Não amoleceu como certos rostos de traços finos,
conservou os mesmos contornos, mas a sua matéria está destruída.
Tenho um rosto destruído.
Marguerite
Duras
-
O Amante
(1984 - excerto)
BREVIÁRiO
Harmonia
Mundi edita em CD, Carlo
Gesualdo [1566-1613]:
Sacrae Cantiones, Liber Secundus por
Vocal Consort Berlin, sob a direcção de James Wood.
EXTRAORDINÁRiO
OS
SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico
COMO
GUARDAR O CORAÇÃO NA CAIXINHA DAS ESMOLAS -
9
- Também,
ninguém o mandou vir...
resmungava Cândido Roubeta entre dentes, afastando algum resquício
de remorsos prematuros, na raiva com que agarrava o candelabro
extinto e exterminador.
De
vagarinho, abriu a porta do quarto, sem fazer barulho. Entrou como
uma sombra a vigorar-se no escuro. Um pensamento fugaz expandia-o da
ânsia de Benedita até à melancolia fatal por Aquiles. Como um
autómato, Cândido penetrou, profundo, no coração do horror.
– Continua
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