terça-feira, fevereiro 20, 2018

IMAGINÁRiO #461

José de Matos-Cruz | 01 Abril 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

NARRATIVAS
Na sequência de uma pesquisa para a dissertação de Mestrado em Estudos do Texto, Maria de Lurdes Castanheta Pelarigo organizou a Colectânea de Contos Para a Criança Na Imprensa Portuguesa do Século XIX, editada em dois volumes por Apenas Livros, na colecção Letra Pequena, Letra Maior. Durante um ano e meio, Lurdes Pelarigo consultou, na Biblioteca Nacional, inúmeros jornais e revistas. Mas só alguns se revelaram úteis para a investigação, pois o que lhe interessava eram escritos indubitavelmente para a criança, considerando, além disso, que só fazia sentido recolher textos que fossem originais e de autores portugueses. A recolha foi efectuada em seis jornais: Ramalhetinho de Puerícia, Branco e Negro, Jornal das Crianças, O Amigo da Infância, O Mundo Em Casa e Recreação Familiar, num total de 43 contos. Nestes, e para além de anónimos, encontramos nomes consagrados como os de Ana de Castro Osório ou Henrique Marques Júnior. Eis uma obra estimulante e indispensável, tanto para estudiosos da literatura para a infância e a juventude, como para todos os leitores em geral.

MEMÓRiA

1912-01ABR1994 - Robert Doisneau: Fotógrafo francês, autor de O Beijo No Hotel de Ville (revista Life, 1950) - «A capacidade visual das pessoas é agora muito mais sofisticada, muito mais desenvolvida, particularmente entre os jovens, pelo que poderemos criar uma imagem que apenas sugira algo, e permita significar o que quisermos». IMAG.311-366

03ABR1924-01JUL2004 - Marlon Brando: Actor americano, de teatro e cinema - «Suponho que a história da minha vida é uma busca de amor - mas, mais do que isso, fui à procura de um caminho próprio para reparar os danos que sofri desde o início, bem como definir a minha obrigação, se eu tivesse alguma, para mim e para minha espécie».  
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1906-03ABR1994 - Agostinho da Silva: Filósofo, ensaísta e pedagogo português - «O compromisso pode tornar-se necessário para que a vida se mantenha; mas já essa mesma vida é grande e bela só quando, pelo menos, tende à rigidez das regras absolutas; e a superioridade das nações, a superioridade que há-de acabar por triunfar, consiste no maior número de espíritos que são capazes de optar pela norma quando ela se encontra em conflito com a vida» (Considerações - excerto). IMAG.20-71-144-158

04ABR1914-1996 - Marguerite Donnadieu, aliás Marguerite Duras: Escritora francesa, e cineasta - «Se não se passou pela obrigação absoluta de obedecer ao desejo do corpo, isto é, se não se passou pela paixão, nada se pode fazer na vida».

06ABR1934-2008 - Guy Peellaert: Pintor, ilustrador, fotógrafo e autor de banda desenhada, criador de Les Aventures de Jodelle (1966) e Pravda, la Survireuse (1968) - «Reconhece-se um eco profundamente universal no seu humor corrosivo, na sua sátira do mundo mecanizado, da sociedade de consumo e dos falsos sentimentos que ela engendra» (Henry Chapier). IMAG.225

1541-07ABR1614 - Doménikos Theotokópoulos, aliás El Greco: Pintor, escultor e arquitecto grego - «Em suma, tornou-se a essência da pintura grega, para os gregos; para os espanhóis, tornou-se a própria essência da arte espanhola» (Michael Kimmelman). IMAG.81-196-310

CALENDÁRiO

18ABR-14JUL2013 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva expõe Estes e Outros Encontros - com obras de Helena Almeida, Lourdes Castro, Rui Chafes, Ana Hatherly, Ana Jota, Vítor Pomar, António Poppe, Rui Sanches e Vieira da Silva, das colecções da Fundação Luso-Americana e da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva.

18MAI-29SET2013 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/MNAA expõe A Encomenda Prodigiosa - Da Patriarcal à Capela Real de São João Baptista, em parceria com o Museu de São Roque e a Patriarcal de Lisboa.

25ABR2013 - ZON Lusomundo estreia Homem de Ferro 3 / Iron Man 3 de Shane Black; com Robert Downey Jr e Gwyneth Paltrow, sobre o super-herói concebido por Stan Lee & Don Heck (1963), para os Marvel Comics.IMAG.80-114-141-183-199-448

INVENTÁRiO

Vitruvius

Não me faria feliz ver uma mulher bem proporcionada e bonita - não importa sob qual aspecto, ainda que extravagante… Ela não só perderia a sua beleza e proporção, diria eu, caso, de acordo com as leis da visão, fosse ampliada em tamanho, como não mais pareceria esbelta e, na verdade, ter-se-ia tornado monstruosa.
El Greco


ANUÁRiO

1907-1974 - Francisco da Cunha Leão: Escritor, director do Diário Popular (1953-1958), autor de O Enigma Português (1960) e de Ensaio de Psicologia Portuguesa (1971) - «Povo mesclado, poliétnico, porventura dos contingentes francos e romanos lhe adveio a quota-parte sanguínea, dos nórdicos algo de fleuma, e dos mediterrâneos e arábicos a emotividade primária, movediça de muitos dos seus homens».

VISTORiA

Encarar a Morte

É talvez sinal de prisão ao mundo dos fenómenos o terror e a dor ante a chegada da morte ou a serena mas entristecida resignação com que a fizeram os gregos uma doce irmã do sono; para o espírito liberto ela deve ser, como o som e a cor, falsa, exterior e passageira; não morre, para si próprio nem para nós, o que viveu para a ideia e pela ideia, não é mais existente, para o que se soube desprender da ilusão, o que lhe fere os ouvidos e os olhos do que o puro entender que apenas se lhe apresenta em pensamento; e tanto mais alto subiremos quando menos considerarmos a morte como um enigma ou um fantasma, quanto mais a olharmos como uma forma entre as formas.
Agostinho da Silva
- Diário de Alcestes (1945 - excerto)

É notável a galeria dos apaixonados e importante a sua participação nos eventos primaciais da história portuguesa. Quer nas vastas concepções e porfiadas empresas, como até na correcção dos nossos defeitos, enquadrando nervosos e coléricos.
Francisco da Cunha Leão
- Ensaio de Psicologia Portuguesa (1971 - excerto)

Um dia, já eu era velha, um homem dirigiu-se a mim à entrada de um lugar público. Deu-se a conhecer e disse-me: «Conheço-a desde sempre. Toda a gente diz que você era bonita quando era nova, vim dizer-lhe que, para mim, acho-a mais bonita agora do que quando era jovem, gostava menos do seu rosto de mulher  jovem do que daquele que tem agora, devastado.»
Penso frequentemente nesta imagem, que sou a única a ver ainda e de que nunca falei. Está sempre aí no mesmo silêncio, deslumbrante. É, de todas, a que me agrada de mim própria, onde me reconheço, onde me encanto.
Muito cedo na minha vida foi tarde de mais. Aos dezoito anos era já tarde demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos, o meu rosto partiu numa direcção imprevista. Aos dezoito anos, envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes, quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura. Sabia também que não me enganava, que um dia ele abrandaria e retomaria o seu curso normal. As pessoas que me tinham conhecido aos dezassete anos, aquando da minha viagem a França, ficaram impressionadas quando me voltaram a ver, dois anos depois, aos dezanove anos. Conservei esse novo rosto. Foi o meu rosto. Envelheceu ainda, evidentemente, mas relativamente menos do que deveria. Tenho um rosto lacerado de rugas secas e profundas, a pele quebrada. Não amoleceu como certos rostos de traços finos, conservou os mesmos contornos, mas a sua matéria está destruída. Tenho um rosto destruído.
Marguerite Duras
- O Amante (1984 - excerto)

BREVIÁRiO

Harmonia Mundi edita em CD, Carlo Gesualdo [1566-1613]: Sacrae Cantiones, Liber Secundus por Vocal Consort Berlin, sob a direcção de James Wood.

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

COMO GUARDAR O CORAÇÃO NA CAIXINHA DAS ESMOLAS - 9

- Também, ninguém o mandou vir... resmungava Cândido Roubeta entre dentes, afastando algum resquício de remorsos prematuros, na raiva com que agarrava o candelabro extinto e exterminador.
De vagarinho, abriu a porta do quarto, sem fazer barulho. Entrou como uma sombra a vigorar-se no escuro. Um pensamento fugaz expandia-o da ânsia de Benedita até à melancolia fatal por Aquiles. Como um autómato, Cândido penetrou, profundo, no coração do horror.
Continua

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