sábado, fevereiro 17, 2018

IMAGINÁRiO #459

José de Matos-Cruz | 16 Março 2014 | Edição Kafre | Ano XI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ALEGORIAS
Ao longo de décadas, sob o signo do cinema como espectáculo e entretenimento, a animação desenvolveu peculiares inovações tecnológicas e de linguagem ao nível do cartoon, e usufruiu da expressão verosímil ou do talento dos actores que cedem voz aos bonecos. Naturalmente, é no seio das Produções Walt Disney que uma tal estratégia assume as maiores virtualidades e ambições, de que é exemplar 101 Dálmatas / 101 Dalmatians (1961) de Wolfgang Reitherman, Hamilton Luske & Clyde Geronimi. À partida, sobressai o manancial literário por Dodie Smith, mas seria a estilização humanimal, sob o signo Disney, a atribuir-lhe a magia fabulosa, que fascinou sucessivas gerações. Um esbelto dálmata, Pongo apresenta Roger, o seu dono artista, a uma simpática senhora, Anita, proprietária da atraente Perdita, uma cadela da mesma raça. Os humanos casam-se e, em breve, Perdita e Pongo presenteiam-nos com quinze filhotes! Mas Cruella de Vil, rica e perversa amiga de Anita, contrata dois malvados, Jasper e Horace, para raptarem os cachorros, escondendo-os numa casa isolada. Nesse local, Cruella mantinha já quarenta e oito cãezinhos sequestrados, para fazer das peles um casaco! Sem contarem com os inconsoláveis patrões, Pongo e Perdita recorrem aos outros canídeos de Londres, e através do Coronel - um cão-pastor reformado, com o auxílio do polícia Tibbs - localizam, finalmente, os reféns em Suffolk… Emoção, ameaças, perfídia, solidariedade transfiguram-se na caricatura das personagens e nas criaturas lúdicas, consumando um espectáculo bizarro, radical - tal como é tradição subliminar das fábulas - e a que a chancela Disney confere o olhar americano: quanto à sua sociedade ou, mesmo, ao resto do mundo.

CALENDÁRiO

1931-02ABR2013 - Frédéric Othon Aristidès, aliás Fred: Artista francês de banda desenhada, criador de Philémon (1965), distinguido com o Prémio Phénix/Melhor Argumento (1969).

1930-02ABR2013 - Jesús Franco Manera, aliás Jesús Franco, aliás Jess Franco, aliás Jess Franck, aliás Clifford Brown, aliás David Khune, aliás P. Brown: Cineasta espanhol, realizador de Diário Intimo de Una Ninfomaniaca (1971) - dirigiu mais de duzentos filmes, de terror, aventuras, erotismo e ficção científica.

06ABR-O4MAI2013 - Em Lisboa, Paralelo W apresenta Aparições, Poetas e Lupanares - exposição de desenhos e pinturas de Luís Manuel Gaspar. IMAG.399-417

12ABR-15JUN2013 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Pintura II de João Fitas.

MEMÓRiA

17MAR1754-1793 - Marie-Jeanne Roland Philippon de la Platière, aliás Madame Roland: Personalidade da Revolução Francesa, membro do Partido Girondino - «O fraco treme diante da opinião pública, o louco afronta-a, o sábio julga-a, controla-a o homem hábil». IMAG.442

1926-18MAR2004 - Luis Felipe Angell de Lama, aliás Sofocieto: Escritor e humorista peruano - «A mediocridade é a arte de não ter inimigos».

1859-20MAR1884 - Henrique César de Araújo Pousão, aliás Henrique Pousão: Pintor português - «Os anos finais, já com muita maturidade em temas, estruturas e cores, são os mais interessantes, caso de Senhora Vestida de Preto (1882), pequeno quadro» (Rogério Santos). IMAG.236-304-372-434

21MAR1924-2009 - Jaime Isidoro: Pintor e galerista português - «Era um grande animador das artes plásticas, e um homem sempre aberto à novidade e aos jovens» (José Rodrigues). IMAG.234

21MAR1934-2009 - Yves Duval: Jornalista e conferencista belga, viajante, argumentista da banda desenhada de expressão franco-belga, colaborador das revistas Tintin e Pilote, trabalhou em séries como Howard Flynn, Rantanplan, Spaghetti, Le Chevalier Noir, Hassan et Kadour, Buck Gallo, Pero le Portugais ou na saga Suzette. IMAG.253

VISTORiA

Aquilo que eu tinha sentido podia-se chamar de prazer. Senti-me bastante culpada. Senti uma grande agitação no meu pobre coração. Como evitar tal coisa? Enfim, não o poderia prever. Mas no instante em que aconteceu não tive pena que tivesse acontecido. A maneira que encontrei de me salvar foi pôr-me com os pés descalços no chão frio de Inverno e com os braços em cruz. Pedi ao Senhor para me livrar das tentações do demónio.
Madame Roland
- Memórias (excerto)

ANTIQUÁRiO

19MAR1604 - Em Vila Viçosa, nasce D. João, futuro 8º Duque de Bragança (1630), depois 22º Rei de Portugal (1640), IV de nome e o Restaurador por cognome, falecido em 1656 com o «mal da gota e da pedra» (Conde da Ericeira).

COMENTÁRiO

Esperando o Sucesso

Em apenas 25 anos de vida, Henrique Pousão (1859-1884), além de outras telas, pintou um dos quadros mais singulares da Pintura Portuguesa: Esperando o Sucesso. Alguns podem ficar apenas intrigados com as pitorescas sandálias ciòcia, populares nos arredores de Roma em finais do século XIX; outros com o ar malicioso do rapaz que serve de modelo e poderia representar as ambições do próprio pintor enquanto jovem; ainda há quem se deixe encantar pelos pormenores do atelier, dos mosaicos do chão às molduras arrumadas, do pincel a sair da paleta ao tubo de tinta caído.
Mas nada se compara ao sarcasmo com que Pousão reflecte acerca da sua arte nesta Alegoria à Pintura. Não é apenas o miúdo atrevido e petulante a sentar-se no «sagrado» banco do pintor nem a tela em que ele teria sido retratado de barriga para baixo. Há ainda o desenho garatujado pelo garoto e, num pormenor que apenas se nota bem ao ver o quadro no Museu Soares dos Reis, no Porto, a caricatura do autor no topo do óleo, ao lado da tela principal.
Ao ler o livro de Carlos Silveira sobre o pintor (editado pela QuidNovi e à venda nos quiosques de jornais), paramos num parágrafo: «Falta igualmente estudar (…) a pintura e os artistas que Pousão contactou em Roma, na Exposição Nacional de Roma de 1883 (…); ou as exposições anuais que o Círculo [Artístico de Roma] organizava na Piazza del Popolo». O que deve ser mais fácil que esclarecer a dúvida de José Teixeira (Henrique Pousão 1859-1884 - No Primeiro Centenário da Sua Morte, ed. Fund. Casa de Bragança, 1984): em Paris, terá visitado a VI Exposição dos Impressionistas e visto as telas de Degas e Gauguin? O melhor é continuarmos «esperando o sucesso».
Fernando Madail
23OUT2010 - Diário de Notícias
 
INVENTÁRiO

FRED & PHILÉMON

«Naufragar, só por si, já é terrível, mas naufragar em algo que não existe, é ainda mais terrível…» - assim introduz Fred o desafio heróico de Philémon (1965), ao precipitar-se num «mundo maravilhoso». Definição esta atribuída por René Goscinny, responsável pela revista Pilote quando O Náufrago do ‘A’ lhe foi proposto, reclamando Fred o argumento e a ilustração. Em boa hora, pois garantiam-se as plenas características duma obra-prima incomparável - graças à imaginação prodigiosa de Fred, aliás Frédéric Othon Aristidès (1931-2013), um dos mais talentosos / virtuais artistas dos quadradinhos franceses para adultos. Onírico, absurdo, surreal, satírico, Fred - galardoado em 1994 com o Troféu Melhor Álbum no Festival de Angoulême, com A História do Corvo de Ténis - concebe / ilustra, em Philémon, uma saga fundamental da banda desenhada europeia. Narração fascinante, expressão estilizada - uma fábula clássica, e cuja actualidade testemunha, com sugestão cultural / nostálgica, as contradições e os paroxismos da nossa sociedade, através da volúvel identidade humana. 
 
ANUÁRiO

2004 - Tendo nascido em 1937, cessa publicação contínua Ferd’nand - série de humor concebida, na Dinamarca, por Mik - aliás, Henning Dahl Mikkelsen - e com aparição diária nos jornais, reiterando um quotidiano conformado pelas peripécias familiares e estilizado pelas rotinas sociais.

BREVIÁRiO

ZON Lusomundo edita em DVD e em Blu-ray, 101 Dálmatas / 101 Dalmatians (1961) de Wolfgang Reitherman, Hamilton Luske & Clyde Geronimi.

Popstock edita em CD, sob chancela Naive, Pour Une Âme Souveraine: A Dedication To Nina Simone (1933-2003) por Meshell Ndegeocello. IMAG.415

Midas Filmes edita em DVD, Glauber Rocha [1939-1981]: Cinco Filmes; inclui Barravento (1962), Deus e o Diabo Na Terra do Sol (1963), Terra Em Transe (1967), António das Mortes / O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969) e A Idade da Terra (1980). IMAG.88-170

Multidisc edita em CD, sob chancela Soul Jazz, Samba - Eu Canto Assim por Elis Regina. IMAG.27

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