quinta-feira, janeiro 18, 2018

IMAGINÁRiO #443

José de Matos-Cruz | 16 Novembro 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

PRODÍGIOS
Sob o signo prodigioso dos efeitos especiais, em que o cinema se transfiguraria como arte e espectáculo, a marca pioneira de Douglas Trumbull distingue-se em obras-primas do fantástico e da ficção científica - como 2001 - Odisseia no Espaço / A Space Odissey (1968) de Stanley Kubrick, A Ameaça de Andrómeda /The Andromeda Strain (1970) e O Caminho das Estrelas / Star Trek (1979) de Robert Wise, ou Encontros Imediatos do Terceiro Grau /Close Encounters of the Third Kind (1977) de Steven Spielberg e Perigo Iminente / Blade Runner (1982) de Ridley Scott.
Na realização, Douglas Trumbull lançou-se com O Cosmonauta Perdido / Silent Running (1971), de que também concebeu a ideia original, sendo argumentistas Michael Cimino, Deric Washburn e Steve Boshco. A acção decorre no Século XXI, relatando a saga de Freeman Lowell, um cientista que, na companhia de vários robots, e após eliminar os companheiros, se refugia nos confins do sistema solar, em imensa nave / vegetarium, onde se conservam os últimos exemplares botânicos, resgatados da depredação da natureza terrestre…

VISTORiA

Elegia ao Companheiro Morto

Meu companheiro morreu às cinco da manhã
Foi de noite ao fim da noite às cinco em ponto da manhã

Ah antes fosse noite noite apenas noite
sem a promessa da manhã

Ah antes fosse noite noite noite apenas noite
e não houvesse em tudo a promessa da manhã

Deitado para sempre às cinco da manhã

Agora que sabia olhar os homens com força
e ver nas sombras que até aí não via a promessa risonha da manhã

Mas quem se vai interessar amigos quem
por quem só tem o sonho da manhã?

E uma vez de noite ao fim da noite mesmo ao cabo da noite
meu companheiro ficou deitado para sempre
e com a boca cerrada para sempre
e com os olhos fechados para sempre
e com as mãos cruzadas para sempre
imóvel e calado para sempre

E era quase manhã E era quase amanhã
Mário Dionísio

CALENDÁRiO

1907-05DEZ2012 - Oscar Niemeyer: Arquitecto brasileiro, um dos grandes criadores do Século XX, tendo revolucionado o uso do betão - «Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein».

1920-05DEZ2012 - Dave Brubeck: Compositor americano, maestro e pianista de jazz, autor de In Your Own Sweet Way - «Faço os possíveis por conservar o Verão dentro de mim - sobretudo, para dissipar as sombras do resto do tempo, e não só do Inverno».

1943-05DEZ2012 - Joaquim Benite: Encenador português e crítico teatral, fundador do Grupo de Campolide (1970) e director da Companhia de Teatro de Almada (1978), criador do Festival de Almada (1984) - «Um grande lutador. Um homem que construiu um grupo, um edifício e um organismo, e soube lidar com as forças vivas de uma maneira quase inédita» (Nuno Carinhas). IMAG.47-333

1920-11DEZ2012 - Robindro Shaunkor Chowdhury, aliás Ravi Shankar: Compositor e músico indiano - inspirou a música pop, ao colaborar com The Beatles (anos ’60) - pai de Norah Jones: «A música do meu progenitor chegou a milhões de pessoas. Vou sentir muito a sua falta».

VISTORiA

ROGÉRIO PAULO

Rogério Gomes Lopes Ferreira nasceu em Silva Porto, Angola, a 17 de Novembro de 1927, tendo falecido em Lisboa, a 25 de Fevereiro de 1993. Estreou-se no Teatro Estúdio do Salitre, sob a direcção artística de Gino Saviotti. Em 1950, iniciou uma actividade profissional na Companhia de Alves da Cunha. Foi um dos fundadores do Teatro Moderno de Lisboa. Em 1962, classificou-se em 1º lugar no Curso da Universidade do Teatro das Nações. Ao longo da sua carreira, efectuou diversas deslocações profissionais ao estrangeiro - Paris (1955, 1962), Varsóvia (1963) - como intérprete, encenador e conferencista, ou participante no Festival Internacional de Teatro. Interveio na Radiotelevisão Portuguesa/RTP desde as primeiras emissões, tendo a sua personalidade dramática ressaltado em pequeno e em grande ecrãs. Destacam-se: A Garça e a Serpente (1952), O Costa d’África (1954), Um Pedido de Casamento (1957 - Tv), Encontro Com a Vida (1960), L’Anglaise / A Inglesa (1964 - Tv), O Crime de Aldeia Velha (1964), O Elixir do Diabo / Forbiden Fruit (1964), O Triângulo Circular / Le Grain de Sable (1964), Trilogia das Barcas (1969 - Tv), Tin Can (1971), A Morte dum Caixeiro Viajante (1974 - Tv), Português, Escritor, 45 Anos de Idade (1974 - Tv), O 25 de Abril (1974 - Participação), 24, 25, 26 (1975 - Tv), Recompensa (1977), O Convidado Debaixo da Mesa (1979), Retalhos da Vida de Um Médico (1979 - Sr tv), La Vita E Bella / Zhizn Prekrasna (1979), Verde Por Fora, Vermelho Por Dentro (1980), A Destruição de Marta Heiman / La Muñeca Rota (1981), La Guerrillera (1981), Sem Sombra de Pecado (1982), Resposta a Matilde (1986 - Tv), A Relíquia (1987 - Sr tv), O Luto de Electra (1992 - Sr tv), Zéfiro (1993), O Judeu (1995). A sua vida e actividade artística encontra-se testemunhada em Rogério Paulo (1982 - Noémia Delgado).

MEMÓRiA

1916-17NOV1993 - Mário Dionísio: Ficcionista, poeta, ensaísta e pintor português - «As bocas que estão fechadas / não estão caladas // Os braços que estão caídos / não estão imóveis // E os olhos que estão voltados / não estão sem ver» (Silenciosa Música do Cosmos). IMAG. 89-243

1927-25FEV1993 - Rogério Paulo: Actor português do teatro, do cinema e da televisão, um dos fundadores do Teatro Moderno de Lisboa (1961) - «uma pedrada no charco naquela época» (Glicínia Quartin). IMAG.107-155

21NOV1923-2008 - Xie Jin: Cineasta chinês, realizador de O Destacamento Vermelho Feminino (1957) - «O seu talento cintilou entre os contemporâneos que se afirmaram após a instauração da República Popular em 1949, e foi um dos poucos artistas que continuaram a dirigir filmes durante e após a Revolução Cultural. Acusado de humanismo burguês, foi condenado a fazer trabalho comunitário nas zonas rurais, e passou algum tempo em prisão domiciliária. Mais tarde, houve quem o denunciasse por oportunismo, quando a mulher de Mão Tsé-Tung, Jian Qing, o envolveu na produção de fitas segundo o modelo ópera, durante o Gangue dos Quatro» (Ronald Bergan). IMAG.222

22NOV1913-1976 - Edward Benjamin Britten: Compositor, maestro, violinista e pianista britânico, autor da ópera Peter Grimes (1945). IMAG.71-298

BREVIÁRiO

Eureka Entertainment edita em Blu-ray, O Cosmonauta Perdido / Silent Running (1971) de Douglas Trumbull; com Bruce Dern e Cliff Potts. IMAG.155
Avie edita em CD, Benjamin Britten [1913-1976]: Winter Words pelo tenor Nicholas Phan; ao piano, Myra Huang.

Cotovia edita Carmina de Catulo (84aC-54aC); introdução de Ana Alexandre Alves de Sousa, tradução de José Pedro Moreira e André Simões.

Aeon edita em CD, Samuel Barber [1910-1981], [Hector] Berlioz (1803-1869), [Benjamin] Britten (1913-1976) por Anne-Catherine Guillet, com Orchestre Philharmonique Royal de Liège, sob a direcção de Paul Daniel. IMAG.54-71-78-84-254-298-308-405-409

COMENTÁRiO

Oscar Niemeyer

Para os arquitectos criados pelo movimento moderno, Oscar Niemeyer posiciona-se no mais alto grau de sabedoria. Invertendo o ditado familiar de que a forma segue a função, Niemeyer demonstrou que, quando a forma cria beleza, ela transforma-se em funcional, e, portanto, em fundamental na arquitectura.
Dizem que Iuri Gagerin, o pioneiro cosmonauta russo, visitou Brasília e comparou a experiência com aterrar num planeta diferente. Muitas pessoas, quando vêem a cidade de Niemeyer pela primeira vez, devem sentir o mesmo. É audaciosa, escultural, colorida e livre - e não se compara a nada que se tenha feito antes. Poucos arquitectos na história recente têm sido capazes de convocar tal vocabulário vibrante, e estruturá-lo em tal linguagem tectónica, brilhantemente comunicativa e sedutora.
Norman Foster

Os encenadores nunca ficam na história. Só os escritores, como o Shakespeare. Sabe, acho que vale a pena viver para nos divertirmos. Lutar por coisas, para cumprir missões, não. O teatro é um sinal de civilização que está na origem da sociedade. Até nos animais. Quando chego a casa, o meu cão faz uma dança que parece egípcia, pá. São rituais de representação. Mas o teatro não tem missão nenhuma. É uma coisa que as pessoas fazem porque gostam e as outras vêem porque lhes dá prazer.
Joaquim Benite

Sem comentários:

Enviar um comentário