domingo, janeiro 14, 2018

IMAGINÁRiO #440

José de Matos-Cruz | 24 Outubro 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

TRAVESSIAS
Um dos nomes maiores da literatura aventuresca, tendo percorrido todas as vertentes do imaginário, em diversas épocas e regiões, com as suas personagens imortais em peripécias trepidantes, que renderam sucessivas gerações de leitores jovens em todo o mundo, Emílio Salgari (1862-1911) congregou a realidade e a fantasia, o sonho e o exotismo, a audácia e o crepúsculo, a história e o futuro, em testemunhos visionários cujo culto e inspiração se estenderiam às mais distintas manifestações artísticas. Entre nós, e assinalando o centenário do seu nascimento, Os Piratas do Deserto - sob chancela Asa - é uma adaptação livre, em novela gráfica, de A Formosa Judia e Os Piratas do Deserto, com argumento e ilustração de Santos Costa. O primeiro autor português a transpor em quadradinhos o romanesco salgariano, há cerca de trinta anos, nas páginas do Mundo de Aventuras, logra uma obra simbólica e alusiva, em coerente preto e branco, conjugando pela maturidade estilizada a sua original inspiração, sob a expectativa primordial de suscitar «uma sensação extraordinária». IMAG.320

MEMÓRiA

1939-18OUT2003 - Manuel Vázquez Montalbán: Escritor espanhol - «Abriu um só olho como se temesse que os dois lhe confirmassem exageradamente aquele céu de nuvens negras, a obscenidade daquela pança cor-de-burro-quando-foge que sujava a paisagem tropical de luxo, transformava o arvoredo numa turba infame de palmeiras e bananeiras de chumbo oxidado» (A Rosa de Alexandria - 1984) .

24OUT1913-1984 - Tito Gobbi: Barítono italiano - entre as principais personagens contam-se Dom Giovanni, Rigoletto, Boccanegra, Falstaff, Scarpia, Iago ou Amonasro, tendo aparecido como actor /cantor em cerca de 25 filmes, sobretudo versões de óperas por Giuseppe Verdi, Giacomo Puccini e Gioachino Antonio Rossini. IMAG.331

1855-26OUT1933 - José Malhoa: Pintor português - A sua arte «traduzia com fidelidade e simplicidade a vida rural. A riqueza plástica, a expressividade das cores, a intensidade dos seus quadros de costumes foram muito apreciadas pelo público no final do Século XIX, início do Século XX. José Malhoa dedicou-se a temas relacionados com a vida rural, com o campo, com a natureza» (Bárbara Santos). IMAG.54-198-208-312

27OUT1923-1997 - Roy Fox Lichtenstein, aliás Roy Lichtenstein: Pintor americano, ligado à Pop Art e inspirado pela banda desenhada - «Quando eu já não estiver por cá, gostaria de doar a minha alma à ciência». IMAG.70

27OUT1923-1999 - Alexandre Pinheiro Torres: Escritor português - «Eu sei como te estimavam, como se divertiam nas tuas prelecções, como os ensinavas a ler, a escrever e a estudar, como tinham por ti aquela admiração especial que costumamos reservar aos professores que de facto mudaram alguma coisa na nossa vida» (Carlos Ceia - Preito, excerto). IMAG.237

28OUT1903-1966 - Arthur Evelyn St. John Waugh, aliás Evelyn Waugh: Escritor britânico - «Se os políticos e os cientistas fossem menos exuberantes, poderíamos ser todos muito mais felizes». IMAG.180-395-396

28OUT1943-2010 - João Aguiar: Escritor português - «A minha vida não dava um livro, e ainda bem. Em compensação, o facto de os meus livros darem uma vida - boa ou má, não importa para o caso -, esse facto devo-o, em grande parte, aos momentos de não-glória… E estou-lhes muito grato»
(Jornal de Letras - 2005). IMAG.235-307

1920-31OUT1993 - Federico Fellini: Cineasta italiano - «A minha natureza não é política e, a maior parte das vezes, o discurso ideológico confunde-me, não o compreendo. Entendo isto como uma fraqueza, como uma de minhas carências».
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CALENDÁRiO

07-10DEZ2012 - Centro Cultural de Belém apresenta Os Pássaros - peça original de André Murraças, baseada no filme de Alfred Hitchcock (1899-1980) e no conto de Daphne Du Maurier (1907-1989), com André Patrício e Patrícia Roque.
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VISTORiA

O presente como o único aceitável corresponde ao projecto de construir um mundo em que os centros de decisão já estão predeterminados pelos guardiães da pusilanimidade símia... Como se vivêssemos num planeta dominado pelos macacos sobreviventes à catástrofe do racionalismo utopista, ameaçam-nos com novas catástrofes se deixamos de ser macacos.
Manuel Vázquez Montalbán
- Manifesto do Planeta dos Macacos (1995 - excerto)

«Você sabe, ó Alexandre Pinheiro Torres, que é que publiquei de útil?», dispara-me a certa altura.
Se eles se me dirige usando o meu nome por inteiro é porque quer dar ênfase especial ao que vai fazer. Atenção, pois. Atenção? Neste momento nem preciso de reler os meus comentários de há dezassete anos. Sei que perguntei a mim próprio quando é que o Carlos deixaria de se convencer de que o que escrevera não tinha qualquer préstimo. Pedia ou não ele insistentemente aos amigos que não lhe falassem nisso? Isso, o quê? Aquilo a que ele chamava esse grande equívoco: a sua obra. «Eu não sou escritor», repetia. «Escritores são vocês ou eles.» Dizia isto com uma seriedade fria, por detrás da qual não sabemos se havia a gargalhada, mas de quem se riria ele? De nós (por certo), dos tais eles (quem seriam?), dele próprio (como saber?)? Fosse como fosse, era muito difícil conseguir que Carlos de Oliveira se referisse aos seus livros. Só de longe a longe, quase envergonhado, aparentemente inseguro, mostrava uma ou outra coisa inédita a alguns dos seus mais íntimos (Herberto Helder, Gastão Cruz, Abelaira, Dionísio, Gomes Ferreira, Alzira Seixo, que sei eu?) e aguardava, ansioso, uma resposta. A situação nunca deixava de me intimidar quando o Carlos nela me envolvia. Não sabia senão fazer-lhe um elogio caloroso. Como poderia ser doutra forma? Resmungava: «Você, afinal, é como os outros.» Levantava-se bruscamente (passava-se isto sempre em sua casa, que nos cafés é que ele não lia ou deixava ler nada a ninguém), e tornava-se às vezes incómodo na obstinação de que o que acabara de mostrar teria, por força, qualquer defeito, talvez fosse tudo mau (era a hipótese mais aceitável). Para que diabo lhe servia o amigo se este lhe escondia a verdade?
Alexandre Pinheiro Torres
(Em Memória Fiel de Carlos de Oliveira - excerto)

O único verdadeiro pecado do mundo terreno é a estupidez.
Não podes cometer esse pecado, Solitão. Não hei-de permitir uma traição tão grande e tão feia.
Estás à beira da vitória.
Ter uma vida física liberta de cuidados. Podes saborear o melhor. A beleza, o conforto, os objectos de arte, as mulheres, a comida, os vinhos, ah, Solitão, não podes fazer o que estão a pensar fazer, nunca o permitirei, hei-de quebrar essa decisão e alimentar esse medo.
João Aguiar
- O Navegador Solitário (1996 - excerto)

BREVIÁRiO

Quetzal edita A Arte da Viagem de Paul Theroux; tradução de Freitas e Silva. IMAG.366

Compact edita em CD, sob chancela Followspot, Joseph Haydn [1732-1809]: 3 Quartetos de Cordas por Quarteto Lacerda.
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Clube do Autor edita Ironias do Destino de Karen Blixen/Isak Dinesen (1885-1962); tradução de Maria João Freire de Andrade. IMAG.42-266-385

Harmonia Mundi edita em CD, Mariusz Kwiecien: Slavic Heroes com Polish Rádio Symphony Orchestra, sob a direcção de Lucasz Borowicz.

Teodolito edita Tirano Banderas de Ramón del Valle-Inclán (1866-1936); tradução de Carlos da Veiga Ferreira.

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Anton Bruckner [1824-1896]: Sinfonia Nº 7 por Staatskapelle Berlin, sob a direcção do pianista Daniel Barenboim. IMAG.104-233-323-404-437

Dom Quixote edita Goodbye Columdus e Cinco Contos de Philip Roth; tradução de Francisco Agarez. IMAG.182-198-240-290-328-375-390-412

PARLATÓRiO

Nunca percebi como dois homens podem juntar-se para escrever um livro. Para mim, é como precisar de três pessoas para produzir um filho.
Evelyn Waugh

A minha arte não é um mero exercício ou um jogo literário. Quando decido pintar um quadro, pretendo que o resultado seja criativamente organizado. Ou seja, trabalho com seriedade, calculando, por exemplo, a proporção adequada das cores. Mais do que a ironia, interessa-me que a obra seja um todo coerente.
Roy Lichtenstein (1983)

Tenho conseguido não ser um escritor comercial, recuso-me a fazer uma escrita comercial… Preciso muito de vender livros, vivo disso, mas não faço essa concessão…
Temos edições a mais para o público que temos, isso é certo. E eu pergunto-me muitas vezes que interesse tem a publicação de certos livros e para que fazem as editoras esse esforço. Também temos problemas ao nível da distribuição. Mas na produção literária, em definitivo não estamos em crise, temos bons escritores.
João Aguiar

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