sábado, dezembro 23, 2017

IMAGINÁRiO #427

José de Matos-Cruz | 16 Julho 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

VACUIDADES

O que acontece quando dois inconsideráveis artistas dos quadradinhos decidem parodiar uma prestigiada dupla heróica, e subverter o seu tradicional território de aventuras, com a cumplicidade da respectiva chancela editorial? A resposta sagra A Armadilha Maquiavélica (2011) - uma reincidência surpreendente, irresistível, sobre As Aventuras de Philip e Francis por Pierre Veys (argumento) & Nicolas Barral (ilustração), após Ameaças ao Império (2005) com original lançamento Dargaud. Tal como As Aventuras de Blake e Mortimer por Edgar Pierre Jacobs, iniciadas em 1946 com O Segredo do Espadão, logo patenteando a arte monumental de Edgar Pierre Jacobs (1904-1987). Agora, e entre nós pela Asa, os próprios fundamentos da Monarquia Britânica estão em causa. Constrangidos a lutar contra intrínsecos azares e falsos alter-egos, enfrentando farsas políticas e adversários como o volúvel Coronel Olrik, Philip e Francis superam-se - ou melhor, supõem-se na Londres genuína e, à beira do caos, restabelecem a ordem universal - perdão, alternativa em Inglaterra... Para gáudio dos leitores, convencionais ou imprevisíveis! IMAG.10-66-119-218-245-281-348

CALENDÁRiO

05SET-27OUT2012 - Em Lisboa, no Teatro da Politécnica, Artistas Unidos apresenta Feliz Aniversário de Harold Pinter (1930-2008); com Alexandra Viveiros e Américo Silva. IMAG.63-118-230-294-300

26JAN1923-14SET2012 - Roberto Roversi: Poeta italiano, romancista e dramaturgo, bibliotecário e editor - «Nós não somos muito fortes e unidos para enfrentar a nova situação italiana… estamos desiludidos e desencorajados… aquilo que nos importa é a morte e não a vida» (Carta de Pier Paolo Pasolini - 1964).

17SET-26NOV2012 - Oceanário de Lisboa expõe Keep the Oceans Clean/Mantenha os Oceanos Limpos; inclui vinte esculturas do colectivo Skeleton Sea - João Parrinha, Xandri Kreuzader e Luís de Dios.

05JAN1933-18SET2012 - Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes, aliás Luiz Goes: Médico estomatologista português, autor e intérprete da canção (fado e balada) de Coimbra - «Artista completo, tinha uma voz invulgar - ele próprio, com o seu canto, fazia bem à alma e ao espírito» (Augusto Camacho Vieira).
18SET-15DEZ2012 - Em Lisboa, Teatro Nacional D. Maria II expõe Teatro Em Folhetos: A Colecção do D. Maria, sendo coordenador científico José Camões.

20SET2012-04JAN2013 - Em Lisboa, BES Arte & Finança expõe Usura de Paulo Nozolino, sendo curador Sérgio Mah. IMAG.33-104-399

27SET2012-27JAN2013 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe 100 Obras, 10 Anos: Uma Selecção da Colecção da Fundação PLMJ; inclui obras de artistas consagrados (Ângela Ferreira, Fernanda Fragateiro, Joana Vasconcelos, João Louro, José Pedro Croft, Julião Sarmento, Miguel Palma, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez ou Rui Chafes) e emergentes (Celestino Mudaulane, Jorge Días, Kiluanji Kia Henda, Rosana Ricalde ou Yonamine).

MEMÓRiA

16JUL1943-1990 - Reinaldo Arenas: Escritor cubano - «Os sofrimentos do proscrito, as tristezas do desterrado, a solidão, as doenças que contraí durante o meu exílio, não os teria certamente conhecido se tivesse vivido livre no meu país». IMAG.301-303

20JUL1873-1932 - Alberto Santos Dumont: Aeronauta, inventor e desportista brasileiro, construiu o avião impulsionado com motor a gasolina, com voos em Paris (1906) homologados pelo Aeroclub de França. IMAG.116-379

1926-23JUL1993 - Luís de Sttau Monteiro: Ficcionista e dramaturgo português - «Já prometi à Fernanda praticamente tudo para que ela me deixe em paz. Tenho a certeza que há-de haver uma solução para tudo isto. Não pode deixar de haver. Não é possível que, numa época em que se pensa ir à Lua, eu tenha de voltar para casa, para uma mulher de quem não gosto, para uma vida que odeio, para um ambiente que me revolta. Então um homem quer sair do seu planeta quando ainda não conseguiu, sequer, fugir da aldeia em que vive?» (Um Homem Não Chora - 1960). IMAG.325

VISTORiA

McCann - Importa-se de se sentar?
Stanley - Importo-me, sim.
McCann - Pois é, mas é melhor sentar-se.
Stanley - Porque é que não se senta você?
McCann - Não sou eu, é você.
Stanley - Não, obrigado.
Harold Pinter
- Feliz Aniversário
(1957 - Tradução de Artur Ramos e Jaime Salazar Sampaio)

Lisboa

Não há mais que silêncio em toda esta cidade. Silêncio e fome. Acabo de percorrer toda a Rua do Ouro e a Rua Augusta e reparei que ninguém falava… Que fazer para sobreviver num lugar onde nem sequer se pode pedir esmola em voz alta, porque isso é considerado como um estrago de riquezas?
Reinaldo Arenas
- O Mundo Alucinante (1966 - excerto)

Matilde
(Aponta para a fogueira)
Olha, meu amor, a tua glória!
Vê-a bem, minha vida, porque quando a fogueira se apagar, tens de te ir embora... Eu não vou contigo, mas verás que é por pouco tempo... Isso, pelo menos, me dará Deus...
(Ao longe o clarão da fogueira começa a apagar-se)
Mais uns instantes, meu amor, e voltarás a ouvir tambores!
Desta vez, porém, as fanfarras serão em tua honra... Estão todos à tua espera, meu homem.
[Parece observar o horizonte
(Pausa)
Oiço-os, ao longe, a falar de ti...
(Pausa)
Olha: já estão formados!
(Pausa)
Dá-me um beijo – o último na terra – e vai! Saberei que lá chegaste quando ouvir os tambores!
[Com crescente intensidade dramática
Vai, amor da minha vida...
(Por um instante segue-o com os olhos. Depois com dignidade volta para o pé de Sousa Falcão)
Julguei que isto era o fim e afinal é o princípio. Aquela fogueira, António, há-de incendiar esta terra!
(O clarão da fogueira diminui visivelmente)
Adeus, meu amor, adeus. Adeus! Adeus! Adeus!
(Para o povo)
Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela vos ensina!
Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim...
(Pausa)
[É quase um grito
Felizmente – felizmente há luar!
(Desaparece o clarão da fogueira. Ouve-se ao longe uma fanfarra que vai crescendo de intensidade até cair o pano)
Luís de Sttau Monteiro
- Felizmente Há Luar! (1961 - excerto)

PARLATÓRiO

Vivi uma vida livre, indispensável para formar o temperamento e o gosto pela aventura. Desde a infância eu tinha uma grande queda por coisas mecânicas e, como todos os que possuem ou pensam possuir uma vocação, eu cultivava a minha com cuidado e paixão. Eu sempre brincava de imaginar e construir pequenos engenhos mecânicos, que me distraíam e me valiam grande consideração na família. Minha maior alegria era me ocupar das instalações mecânicas de meu pai. Esse era o meu departamento, o que me deixava muito orgulhoso.
Santos Dumont

COMENTÁRiO

Santos Dumont
Esse soberbo génio de formas atléticas, de grave perfil, que mantém abertas nas amarras dos braços as suas asas, rudemente empunhadas como dois escudos, simboliza nobremente a grande obra de Santos Dumont: ele evocaria de uma maneira bem inexacta o pequeno grande homem simples, ágil e risonho, que ele é na realidade. Vestido com um casaco e com uma calça muito curta sempre arregaçada, coberto com chapéu mole cujos bordos estão em contrapartida sempre rebatidos, ele nada tem de monumental. O que o distingue é o gosto pela simplificação das formas geométricas, e tudo no seu aspecto denota este carácter. Tem paixão pelos instrumentos de precisão. Sobre a sua mesa de trabalho estão instaladas pequenas máquinas de precisão, verdadeiras jóias da mecânica, que não lhe servem para nada e estão lá somente para o prazer de tê-las como bibelôs. Ali se vê, ao lado de um barómetro e de um microscópio do último modelo, um cronómetro de marinha, na sua caixa de mogno. Até mesmo no terraço de sua vila ergue-se um esplêndido telescópio, com o qual ele se dá à fantasia de inspeccionar o céu. Tem horror a qualquer complicação, a qualquer a cerimónia, a qualquer fausto.
Georges Goursat/Sem
- L’Illustration (1901)


Teatralmente, Feliz Aniversário é cativante. As personagens são fascinantes. Toda a peça tem a atmosfera de terror silencioso, inatingível e de pôr os cabelos em pé, que as melhores histórias do mundo possuem. Pinter percebeu um dos factos mais básicos da existência humana: vivemos à beira do desastre.
Harold Hobson
1957 - The Times



BREVIÁRiO

Diel edita Autobiografia de G.K. Chesterton (1874-1936); tradução de Luís de Sousa Costa. IMAG.319-355

Relógio D’Água edita A Filha do Optimista de Eudora Welty (1909-2001); tradução de Margarida Periquito. IMAG.240-331

Orfeu edita em CD, Contos Velhos, Rumos Novos de José Afonso (1929-1987). IMAG.6-119-170-237-269-328-421-422

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