José
de Matos-Cruz | 16 Julho 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
VACUIDADES
O
que acontece quando dois inconsideráveis artistas dos quadradinhos
decidem parodiar uma prestigiada dupla heróica, e subverter o seu
tradicional território de aventuras, com a cumplicidade da
respectiva chancela editorial? A resposta sagra A
Armadilha Maquiavélica
(2011) - uma reincidência
surpreendente, irresistível, sobre As
Aventuras de Philip e Francis
por Pierre
Veys (argumento) &
Nicolas
Barral
(ilustração), após Ameaças
ao Império (2005) com
original lançamento Dargaud. Tal como As
Aventuras de Blake e Mortimer por
Edgar Pierre Jacobs, iniciadas em 1946 com O
Segredo do Espadão, logo
patenteando a arte monumental de Edgar
Pierre Jacobs (1904-1987).
Agora, e entre nós pela Asa, os próprios fundamentos da Monarquia
Britânica estão em causa. Constrangidos a lutar contra intrínsecos
azares e falsos alter-egos, enfrentando farsas políticas e
adversários como o volúvel Coronel Olrik, Philip e Francis
superam-se - ou melhor, supõem-se na Londres genuína e, à beira do
caos, restabelecem a ordem universal - perdão, alternativa em
Inglaterra... Para gáudio dos leitores, convencionais ou
imprevisíveis! IMAG.10-66-119-218-245-281-348
CALENDÁRiO
05SET-27OUT2012
- Em Lisboa, no Teatro da Politécnica, Artistas Unidos apresenta
Feliz Aniversário de
Harold Pinter (1930-2008); com Alexandra Viveiros e Américo Silva.
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26JAN1923-14SET2012
- Roberto Roversi: Poeta italiano, romancista e dramaturgo,
bibliotecário e editor - «Nós não somos muito fortes e unidos
para enfrentar a nova situação italiana… estamos desiludidos e
desencorajados… aquilo que nos importa é a morte e não a vida»
(Carta de Pier Paolo Pasolini - 1964).
17SET-26NOV2012
- Oceanário de Lisboa expõe Keep
the Oceans Clean/Mantenha os Oceanos Limpos;
inclui vinte esculturas do colectivo Skeleton Sea - João Parrinha,
Xandri Kreuzader e Luís de Dios.
05JAN1933-18SET2012
- Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes, aliás Luiz Goes: Médico
estomatologista português, autor
e intérprete da canção (fado e balada) de Coimbra - «Artista
completo, tinha uma voz invulgar - ele próprio, com o seu canto,
fazia bem à alma e ao espírito» (Augusto Camacho Vieira).
18SET-15DEZ2012
- Em Lisboa, Teatro Nacional D. Maria II expõe Teatro
Em Folhetos: A Colecção do D. Maria,
sendo coordenador científico José Camões.
20SET2012-04JAN2013
- Em Lisboa, BES Arte & Finança expõe Usura
de Paulo Nozolino, sendo
curador Sérgio Mah. IMAG.33-104-399
27SET2012-27JAN2013
- Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe 100
Obras, 10 Anos: Uma Selecção da Colecção da Fundação PLMJ;
inclui obras de artistas consagrados (Ângela Ferreira, Fernanda
Fragateiro, Joana Vasconcelos, João Louro, José Pedro Croft, Julião
Sarmento, Miguel Palma, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez ou Rui
Chafes) e emergentes (Celestino Mudaulane, Jorge Días, Kiluanji Kia
Henda, Rosana Ricalde ou Yonamine).
MEMÓRiA
16JUL1943-1990
- Reinaldo Arenas: Escritor cubano - «Os sofrimentos do proscrito,
as tristezas do desterrado, a solidão, as doenças que contraí
durante o meu exílio, não os teria certamente conhecido se tivesse
vivido livre no meu país». IMAG.301-303
20JUL1873-1932
- Alberto Santos Dumont: Aeronauta, inventor e desportista
brasileiro, construiu o avião impulsionado com motor a gasolina, com
voos em Paris (1906) homologados pelo Aeroclub de França.
IMAG.116-379
1926-23JUL1993
- Luís de Sttau Monteiro:
Ficcionista e dramaturgo português - «Já prometi à Fernanda
praticamente tudo para que ela me deixe em paz. Tenho a certeza que
há-de haver uma solução para tudo isto. Não pode deixar de haver.
Não é possível que, numa época em que se pensa ir à Lua, eu
tenha de voltar para casa, para uma mulher de quem não gosto, para
uma vida que odeio, para um ambiente que me revolta. Então um homem
quer sair do seu planeta quando ainda não conseguiu, sequer, fugir
da aldeia em que vive?» (Um
Homem Não Chora -
1960). IMAG.325
McCann
- Importa-se de se sentar?
Stanley
- Importo-me, sim.
McCann
- Pois é, mas é melhor
sentar-se.
Stanley
- Porque é que não se senta
você?
McCann
- Não sou eu, é você.
Stanley
- Não, obrigado.
Harold
Pinter
-
Feliz Aniversário
(1957
- Tradução de Artur Ramos e Jaime Salazar Sampaio)
Não
há mais que silêncio em toda esta cidade. Silêncio e fome. Acabo
de percorrer toda a Rua do Ouro e a Rua Augusta e reparei que ninguém
falava… Que fazer para sobreviver num lugar onde nem sequer se pode
pedir esmola em voz alta, porque isso é considerado como um estrago
de riquezas?
Reinaldo
Arenas
-
O Mundo Alucinante (1966
- excerto)
Matilde
Olha,
meu amor, a tua glória!
Vê-a
bem, minha vida, porque quando a fogueira se apagar, tens de te ir
embora... Eu não vou contigo, mas verás que é por pouco tempo...
Isso, pelo menos, me dará Deus...
(Ao
longe o clarão da fogueira começa a apagar-se)
Mais
uns instantes, meu amor, e voltarás a ouvir tambores!
Desta
vez, porém, as fanfarras serão em tua honra... Estão todos à tua
espera, meu homem.
[Parece
observar o horizonte
(Pausa)
Oiço-os,
ao longe, a falar de ti...
(Pausa)
Olha:
já estão formados!
(Pausa)
Dá-me
um beijo – o último na terra – e vai! Saberei que lá chegaste
quando ouvir os tambores!
[Com
crescente intensidade dramática
Vai,
amor da minha vida...
(Por
um instante segue-o com os olhos. Depois com dignidade volta para o
pé de Sousa Falcão)
Julguei
que isto era o fim e afinal é o princípio. Aquela fogueira,
António, há-de incendiar esta terra!
(O
clarão da fogueira diminui visivelmente)
Adeus,
meu amor, adeus. Adeus! Adeus! Adeus!
(Para
o povo)
Olhem
bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao
que ela vos ensina!
Até
a noite foi feita para que a vísseis até ao fim...
(Pausa)
[É
quase um grito
Felizmente
– felizmente há luar!
(Desaparece
o clarão da fogueira. Ouve-se ao longe uma fanfarra que vai
crescendo de intensidade até cair o pano)
Luís
de Sttau Monteiro
-
Felizmente
Há Luar!
(1961 - excerto)
PARLATÓRiO
Vivi
uma vida livre, indispensável para formar o temperamento e o gosto
pela aventura. Desde a infância eu tinha uma grande queda por coisas
mecânicas e, como todos os que possuem ou pensam possuir uma
vocação, eu cultivava a minha com cuidado e paixão. Eu sempre
brincava de imaginar e construir pequenos engenhos mecânicos, que me
distraíam e me valiam grande consideração na família. Minha maior
alegria era me ocupar das instalações mecânicas de meu pai. Esse
era o meu departamento, o que me deixava muito orgulhoso.
Santos
Dumont
COMENTÁRiO
Santos
Dumont
Esse
soberbo génio de formas atléticas, de grave perfil, que mantém
abertas nas amarras dos braços as suas asas, rudemente empunhadas
como dois escudos, simboliza nobremente a grande obra de Santos
Dumont: ele evocaria de uma maneira bem inexacta o pequeno grande
homem simples, ágil e risonho, que ele é na realidade. Vestido com
um casaco e com uma calça muito curta sempre arregaçada, coberto
com chapéu mole cujos bordos estão em contrapartida sempre
rebatidos, ele nada tem de monumental. O que o distingue é o gosto
pela simplificação das formas geométricas, e tudo no seu aspecto
denota este carácter. Tem paixão pelos instrumentos de precisão.
Sobre a sua mesa de trabalho estão instaladas pequenas máquinas de
precisão, verdadeiras jóias da mecânica, que não lhe servem para
nada e estão lá somente para o prazer de tê-las como bibelôs. Ali
se vê, ao lado de um barómetro e de um microscópio do último
modelo, um cronómetro de marinha, na sua caixa de mogno. Até mesmo
no terraço de sua vila ergue-se um esplêndido telescópio, com o
qual ele se dá à fantasia de inspeccionar o céu. Tem horror a
qualquer complicação, a qualquer a cerimónia, a qualquer fausto.
Georges
Goursat/Sem
Teatralmente,
Feliz Aniversário é
cativante. As personagens são fascinantes. Toda a peça tem a
atmosfera de terror silencioso, inatingível e de pôr os cabelos em
pé, que as melhores histórias do mundo possuem. Pinter percebeu um
dos factos mais básicos da existência humana: vivemos à beira do
desastre.
Harold
Hobson
1957
- The
Times
BREVIÁRiO
Diel
edita Autobiografia de
G.K. Chesterton (1874-1936); tradução de Luís de Sousa Costa.
IMAG.319-355
Relógio
D’Água edita A Filha do
Optimista de Eudora Welty
(1909-2001); tradução de Margarida Periquito. IMAG.240-331
Orfeu
edita em CD, Contos
Velhos, Rumos Novos
de José Afonso (1929-1987). IMAG.6-119-170-237-269-328-421-422
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