domingo, novembro 19, 2017

IMAGINÁRiO #404

José de Matos-Cruz | 24 Janeiro 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

VARIÁVEIS
Etnógrafo, professor universitário, Jean Rouch (1917-2004) era, também, dito o inventor do cinema-verdade - embora, em sua opinião, nada mais tenha feito que seguir a tradição dos clássicos pioneiros: câmara ao ombro, diálogos improvisados, ausência de actores profissionais, espontaneidade de rodagem… Afinal, superando a estética tradicional, os meios pesados, industriais, para obter uma linguagem mais directa, simples e anticonvencional. Ao recordar os seus inícios no cinema, Jean Rouch falava deste como um corpo fechado - onde circulam personagens monstruosas, «os artistas», com as suas hordas gigantescas de equipas técnicas. Começou por trabalhar com uma câmara de 16 mm, por não possuir outros meios, e dadas as facilidades de manejo. Fez um cinema antropológico - dedicando-se aos usos e costumes da África francófona. Aliás, Jean Rouch definia a etnografia como o estudo de uma cultura que não é a nossa, explicitando que o cinema a ela dedicado se caracteriza por uma actividade essencial: a constituição de arquivos fílmicos sobre vivências em vias de extinção, ou em processo de transformação. Porém, não bastaria um testemunho documental, sendo necessário misturar a realidade com o imaginário…

MEMÓRiA

1899-24JAN1983 - George Cukor: Cineasta americano - «Num filme, se a linha narrativa não motivar as cenas, as cenas não terão qualquer significado». IMAG.179-225-274-290

1940-26JAN1993 - Nelson Dias: Artista plástico, ilustrador de Wanya - Escala Em Orongo (1973) - «A violência que perpassa é sempre contada em flashback, como recordação - tanto do que vitimou Orongo, como do que ocorreu na Terra, antes de ter superado uma atávica inclinação guerreira». IMAG. 166-173-178-263-385

28JAN1853-1895 - José Martí: Escritor, político e filósofo cubano - «Quem não se sentir ofendido com a ofensa feita a outros homens, quem não sentir na face a queimadura da bofetada dada noutra face, seja qual for a sua cor, não é digno de ser homem».

28JAN1873-1954 - Sidonie Gabrielle Colette: Escritora francesa - «A mulher que se acha inteligente reclama igualdade de direitos com os homens. Mas a mulher que é realmente inteligente não o faz». IMAG.225

1889-29JAN1953 - João Pina de Morais: Escritor e político português - «A tolerância é infinitamente mais difícil do que, por exemplo, a geometria». IMAG.304

1874-29JAN1963 - Robert Frost: Poeta americano - «Nunca iniciei uns versos cujo fim conhecesse. Escrever poesia é um ritual de descoberta».

31JAN1923-2007 - Norman Mailer: Escritor e jornalista americano - « Já não somos uma cultura literária. Somos uma cultura televisiva. Os escritores já não são tão importantes quanto eram antes. E digo isto, sem nenhum prazer». IMAG.105-171-228

CALENDÁRiO

24SET1943-25MAR2012 - Antonio Tabucchi: Escritor italiano, professor de Língua e Literatura Portuguesas - «Que influência pode ter a voz de um escritor, de um poeta, de um intelectual? É uma gota no oceano, uma agulha no palheiro. A arte e a literatura nunca modificaram muito o mundo». IMAG.269-273

29MAR2012 - C.R.I.M. produziu, e estreia A Vingança de Uma Mulher de Rita Azevedo Gomes; com Rita Durão e Fernando Rodrigues. IMAG.172

29MAR2012 - Alambique estreia É Na Terra, Não É Na Lua de Gonçalo Tocha.

03ABR-04MAI2012 - Em Lisboa, Livraria Leya na Buchholz expõe Aguarelas de Catherine Labey, em complemento a Provérbios… Com Gatos, álbum da artista com edição sob chancela Asa. IMAG.132-147-150-160-256

VISTORiA

Um Pássaro Menor

Quis, de facto, que o pássaro voasse
E próximo ao meu lar não mais cantasse.

Cheguei à porta para afugentá-lo,
Por sentir-me incapaz de suportá-lo.

Penso que a inteira culpa fosse minha,
E não do pássaro ou da voz que tinha.

O erro estava, decerto, na aflição
De querer silenciar uma canção.

Robert Frost
(Tradução de Renato Suttana)
COMENTÁRiO

O estudo da antiguidade mostra a existência duma civilização de sólidos princípios morais, que se confundem no cristianismo e são uma impressionante lição de tolerância tanto religiosa como política…
A base de toda a obra de educação deve ser de tal maneira ampla que possa abranger todas as concepções de vida, embora diferentes na sua beleza e na sua sociabilidade.
João Pina de Morais
- Areia à Rebatinha (excertos)
16MAR1944 - Jornal de Notícias

VISTORiA


Podem chamar-me D.T., que é abreviatura de Dieter, um nome alemão, e D.T. serve, agora que estou na América, esta nação curiosa. Se recorro a uma grande dose de paciência, é porque o tempo aqui passa sem significado para mim, e esse é um estado que nos predispõe à rebelião. Será essa a razão porque estou a escrever um livro?
Norman Mailer
- O Fantasma de Hitler (excerto, 2007)

Assassinado um jornalista. Depois mudou de linha e começou a escrever: «Chamava-se Francisco Monteiro Rossi, era de origem italiana. Colaborava no nosso jornal com artigos necrológios. Escreveu vários textos sobre grandes escritores da nossa época, como Maiakovski, Marinetti, D‘Annunzio, García Lorca. Os artigos não foram ainda publicados, mas talvez o sejam um dia. Era um rapaz alegre, que amava a vida e que todavia fora encarregado de escrever sobre a morte, tarefa a que não se furtou. E esta noite a morte veio procurá-lo. Ontem à noite, quando jantava em casa do director da página cultural do «Lisboa», o doutor Pereira, que escreve este artigo, três homens armados irromperam pela casa dentro. Declararam pertencer à polícia política, mas não mostraram nenhum documento que o confirmasse… Estava apaixonado por uma bonita e doce rapariga cujo nome desconhecemos. Apenas sabemos que tinha o cabelo dourado e que amava a cultura. A esta rapariga, caso nos esteja a ler, apresentamos os nossos mais sinceros sentimentos e a nossa afectuosa saudação.
Pereira mudou de linha e em baixo, à direita, pôs o seu nome: Pereira.
Antonio Tabucchi
- Afirma Pereira (excerto, 1994)

BREVIÁRiO

Midas edita em DVD, Colecção Jean Rouch (1917-2004). IMAG.96-217

Relógio D’Água edita Pela Estrada Fora - O Rolo Original de Jack Kerouac (1922-1969); tradução de Margarida Vale de Gato. IMAG.126-141-212-217-247-338-362

Relógio D’Água edita Pela Estrada Fora de Jack Kerouac (1922-1969); tradução de Armanda Rodrigues e Margarida Vale de Gato. IMAG.126-141-212-217-247-338-362

Deutsche Grammophon edita em CD, Anton Bruckner [1824-1896] / [Jean] Sibelius [1865-1957] / [Carl] Nielsen [1865-1931] por Gotheburg Symphony Orchestra, sob a direcção de Gustavo Dudamel. IMAG.104-213-233-323-402

Clube do Autor edita A Livraria de Penelope Fitzgerald (1916-2000); tradução de Eugénia Antunes.

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Live at the Metropolitan Opera pela soprano Anna Netrebko. IMAG.161-236-249-314-387

Ática edita Sebastianismo e Quinto Império de Fernando Pessoa (1888-1935).
IMAG.26-28-64-82-130-131-157-182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343-347-376-382-384-385-395-399-403

Aurum Press edita Star Trek Vault - 40 Years From the Archive por Scott Tipton. IMAG.34-62-110-249-336-338

Lua de Papel edita Um Mundo Iluminado de Hubert Dreyfus e Sean Dorrance Kelly; tradução de Francisco Gonçalves.

PARLATÓRiO

Quero insistir neste ponto: a democracia depende da beleza da linguagem. Depende do aperfeiçoamento - e não da deterioração da língua. Os Estados Unidos eram maravilhosos nos tempos de Franklin Roosevelt, porque ele falava tão bem. O pouco que pudemos ter de John Kennedy deu-nos uma mostra de que ele, um homem inteligente, queria elevar o nível da inteligência na política e na América.
As democracias são delicadas. Digo: o inglês só não sofreu um colapso e só não se partiu em pedaços ao longo das turbulências do Século XX, porque um dia existiu William Shakespeare. Sem James Joyce, a Irlanda seria bem menos. Faço essas constatações não por ser um semi-talentoso novelista, mas porque a linguagem é imensamente importante. Bush destrói a linguagem quando abre a boca. Em nome do terror, Bush cometeu crimes contra a integridade e a reputação do Estado. É o pior Presidente dos meus oitenta e três anos de vida. Isso significa um bocado, porque vivi sob Ronald Reagan.
Norman Mailer (2006)

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS - Folhetim Aperiódico

QUANDO A NOITE ESTÁ PARADA VÃO-SE OS VENTOS DE MUDANÇA - 6

Em sua candura apelativa, Silvina Formigal era ainda um projecto virtual. Nas escarpas do abismo humano em que Olavo Moirante se debatia, sobreposto, entre a fama de bom rapaz e os seus demónios íntimos.
Continua

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