PRONTUÁRiO
SUBSISTÊNCIA
O
quotidiano de uma pequena aldeia isolada das montanhas, no Japão de
finais do Século XIX, eis o envolvimento de A
Balada de Narayama
/
Narayama-bushi Kô
(1983)
de Shohei
Imamura.
Um circunstancialismo cruel, de miséria e carências, a que se ligam
os rituais comunitários sob implacável disciplina, quando em jogo
está a sobrevivência. Em particular, o trágico destino de uma
família de ladrões, e a exemplar tenacidade de uma velha mulher, em
resolver os problemas dos dois filhos, antes de ser levada para o
Narayama, a fim de morrer e reintegrar o espírito divino da
natureza…
Distinguido
com a Palma de Ouro do Festival de Cannes - com que Imamura voltaria
a ser galardoado em 1997, por A
Enguia / Unagi
- este clássico
do cinema nipónico parte de um consagrado texto literário de
Shichiro Fukazawa, Narayma
(a par de Homens
do Norte),
sobre o qual Keisuke Kinoshita havia já realizado, em 1958, um filme
com o mesmo título. Símbolos intemporais, valores em causa,
transfiguram uma existência singular e colectiva, em que o mero acto
sexual assume um vertiginoso motivo de prazer e salvaguarda da
espécie.
MEMÓRiA
08JAN1823-07NOV1913
- Alfred Russel Wallace: Naturalista, antropólogo, biólogo e
espírita britânico - «Eu era um materialista tão convencido, que
não admitia absolutamente a existência do mundo espiritual. Os
factos, porém, são coisas pertinazes. Eles obrigam-me a aceitá-los
como factos. Os fenómenos espíritas estão tão bem comprovados,
como os factos de todas outras ciências».
08JAN1923-2011
- Giorgio Tozzi: Cantor lírico norte-americano - «Sabia tudo sobre
arte e política, mas era um homem simples, sem o ego das vedetas»
(Roger Havranek). IMAG.362
1922-08JAN2003
- José Viana: Actor português - «Apesar de ser um dos grandes
actores da sua geração, o cinema poucas oportunidades lhe ofereceu»
(Jorge Leitão Ramos). IMAG.397
09JAN1753-01OUT1833
- Luísa Rosa de Aguiar Todi, aliás Luísa Todi: «Cantora
portuguesa que encheu a Europa com os ecos da sua voz e a fama do seu
nome, considerada um modelo de
perfeição artística pela
crítica de 1778, coberta de louros e cercada pelas saudações
ruidosas da sua imensa glória» (Diário
de Notícias - 25MAR1872).
11JAN1913-1990
- Rubem Braga: Escritor brasileiro - «Há um grande vento frio
cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol é muito claro.
Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não
cantam mais. Talvez tenha acabado o verão».
12JAN1783-1847
- Erik Geijer: Escritor e compositor sueco - «O que se faz de
grande, faz-se em silêncio» (O
Camponês).
13JAN1873-1932
- Joshua Benoliel: Fotógrafo e jornalista português - «Sente-se o
amor que este homem tinha pela sua cidade e pelas suas gentes, a
facilidade com que deambulava pelas ruas mais esconsas, testemunhando
a precariedade das situações sociais, numa atitude próxima dos
americanos Riis e Hine. É uma postura mais íntima, mais ‘fado’,
mais humana» (José Pedro de Aboim Borges). IMAG.42-357
13JAN1913-1979
- Gilbert Cesbron: Escritor francês - «Todos os homens têm dois
inimigos: o passado e o futuro. O presente é o maior presente
que Deus lhes deu».
VISTORiA
As
Laranjas
laranjas
são brasas vivas sobre ramos
ou rostos espreitando entre colinas verdes?
e a ramaria, folhas que baloiçam
ou formas frágeis que me causam pena?
vejo-te, laranjeira, com os teus frutos,
lágrimas rubras dos tormentos do amor.
são sólidos mas, se fundidos, vinho seriam
moldados pelas mãos mágicas da natureza.
são bolas de cornalina sobre ramos de topázio
à espera do açoite da brisa.
porque tais frutos beijamos,
ou seu cheiro aspiramos,
eis que às vezes nos parecem
ou rostos de raparigas
ou pomos feitos perfume.
ou rostos espreitando entre colinas verdes?
e a ramaria, folhas que baloiçam
ou formas frágeis que me causam pena?
vejo-te, laranjeira, com os teus frutos,
lágrimas rubras dos tormentos do amor.
são sólidos mas, se fundidos, vinho seriam
moldados pelas mãos mágicas da natureza.
são bolas de cornalina sobre ramos de topázio
à espera do açoite da brisa.
porque tais frutos beijamos,
ou seu cheiro aspiramos,
eis que às vezes nos parecem
ou rostos de raparigas
ou pomos feitos perfume.
Ibn
Sâra, as-Santarini
Aos
meus amigos de Sagny, ofereço esta história que não tinha o
direito de escrever, porque nunca fui pobre, nem padre, nem operário.
Gilbert
Cesbron
-
Os Santos Vão Para o Inferno
(1952)
VISTORiA
Despedida
E
no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste.
Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido
melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de
carnaval - uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e
depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que
a última vez que se encontraram se amaram muito - depois apenas
aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a
vida é que os despediu, cada um para seu lado - sem glória nem
humilhação.
Creio
que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma
lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se
tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo
nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um
indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E
que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam,
porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir
maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz:
que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no
fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez
não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem,
nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras - com
flores e cantos. O inverno - te lembras - nos maltratou; não havia
flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como
dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah,
talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde
haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que
explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o
silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas
douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A
pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa
tarde de domingo.
Rubem
Braga
-
A Traição das Elegantes
(excerto, 1967)
Joshua
Benoliel
O
seu feitio pessoal, caracterizado por uma exuberância sadia, voz
forte, desempeno de opiniões, sinceridade por vezes demasiada, nos
centros de cavaco e em todos os lugares onde se podia entrever uma
notícia, fez dele uma personalidade originalíssima.
Diário
de Lisboa
ANUÁRiO
1043-1123
- Ibn Sâra, as-Santarini: Poeta íbero-árabe - «[É] sobre a face
branca de uma página / que, ao mesmo tempo, por meio da tinta negra
/ das linhas, [se] anuncia / noite e dia...» (Panegírico
de Abú Umayya ibn ‘Isâm).
1863
- Neste ano, há no distrito de Coimbra 7.165 nascimentos, sendo
3.636 do sexo masculino e 3.529 do feminino; o número de casamentos
é de 1.692.
COROLÁRiO
Entre
os clássicos de sucesso e os desafios irresistíveis, do passado e
do futuro, a actualidade editorial de Lucky Luke, o
cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra,
prossegue - sob chancela Asa - Na
Pista dos Dalton (1971), a
partir da sensacional inspiração original por René Goscinny
(1926-1977) e Morris/Maurice de Bevère (1923-2001), que também
ilustra o espectacular Fingers
(1983), sobre argumento de Lo
Hartog Van Banda (1916-2006).
Entretanto,
e imaginemos que, muito tempo antes, o
Far West é o seu recreio,
para revelar um precoce e ousado Kid Lucky como O
Aprendiz de Cowboy (2011),
tal como concebeu e ilustrou Achdé/Hervé Darmenton, mantendo
coerente e rejuvenescido - entre a nostalgia e a cumplicidade - um
grafismo estilizado e uma genica característica, para gáudio de
todos os leitores, impenitentes ou virtuais.
IMAG.5-15-23-34-61-94-114-135-211-249-257-317-350-386
CALENDÁRiO
22MAR2012
- Midas Filmes estreia Swans
de Hugo Vieira da Silva e Heidi Wilm; com Kai Hillebrandt e Ralph
Herforth. IMAG.125
BREVIÁRiO
Divisa
edita em DVD, A
Balada de Narayama /
Narayama-bushi Kô (1983)
de Shohei Imamura; com Ken Ogata e Tonpei Idari.
IMAG.97-134-383
Ática
edita Argumentos Para Filmes
de Fernando Pessoa
(1888-1935.
IMAG.
26-28-64-82-130-131-157-182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343-347-376-382-384-385-395-399
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