quinta-feira, novembro 16, 2017

IMAGINÁRiO #401

José de Matos-Cruz | 01 Janeiro 2013 | Edição Kafre | Ano X – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

PERSISTÊNCIA
«Há lugares assim, onde a terra e o céu se falam. Sei mesmo, ouso dizê-lo, em que língua fala. As nuvens e o solo trocam as suas matérias, misturam as suas partículas, abrem e reciclam os seus fragmentos de memória. As palavras chovem, invisíveis, formam frases, jogam com os destinos…» As palavras fecundas de D.H. Lawrence passam pelo olhar visionário de Enki Bilal - um dos mais prestigiados e intervenientes artistas europeus de banda desenhada - que, em Animal’z, traçou um testemunho / alerta sobre tempos próximos de degradação climatérica e crise ecológica, sobre a escassez de água potável e a demolição social, implicando alterações irreversíveis e desafios a uma sobrevivência em catástrofe.
Ainda sob chancela Asa, Júlia & Roem desvenda as consequências planetárias do impacto causado pelo golpe de sangue ambiental, traçando um sortilégio fantástico e exacerbado - entre a aprendizagem e a partilha, o sacrifício e a libertação - que Bilal consuma pelo privilégio da narrativa sobre a dramaturgia, ao sagrar uma dimensão épica e simbólica, num exorcismo imaginário entre as luzes e as trevas. No outrora Mar Báltico, um misterioso capelão atravessa o deserto mutante, num Ferrari eléctrico, sublimando a resistência e a salvação… IMAG. 11-53-60-303-312

MEMÓRiA

01JAN1653 - Morre D. Francisco de Castro, neto de D. João de Castro, 4º Vice-Rei da Índia, inquisidor e doutor em Teologia; foi Reitor da Universidade de Coimbra, Bispo da Guarda e Conselheiro de Estado; jaz no Convento de São Domingos de Benfica.

02JAN1872 - O autor e actor José Maria Braz Martins lê em casa do Senhor Torrezão a sua nova comédia em 3 actos, Fruta do Tempo.

04JAN1643-1727 - Isaac Newton: Cientista inglês, filósofo, astrónomo, físico, matemático, alquimista e teólogo - «Assim, então, a primeira religião era a mais racional de todas as outras até que as nações a corromperam. Pois não há caminho sem revelação para chegar ao conhecimento da divindade, excepto pela estrutura da natureza». IMAG.29-46-87-124-353

06JAN1883-1931 - Khalil Gibran: Pintor, filósofo e escritor líbano-americano - «Um livro é como uma janela. Quem não o lê, é como alguém que ficou distante da janela, e só pode avistar uma pequena parte da paisagem». IMAG.317

1917-06JAN1993 - John Birks Gillespie, aliás Dizzy Gillespie: Trompetista norte-americano de bebop e jazz moderno - «A música, em si, não me interessa… Aquilo de que eu gosto, mesmo, é dos sons».

1856-07JAN1943 - Nikola Tesla: Engenheiro e inventor de origem sérvia, radicado nos EUA - responsável pela corrente alterna, a televisão, a lâmpada fluorescente de néon e os radares, considerado o pai da rádio - «O cientista não tem por objectivo um resultado imediato. Ele não espera que as suas ideias avançadas sejam facilmente aceites. O seu dever é estabelecer as bases para aqueles que hão-de vir, e assinalar um caminho».

22AGO1865 - José Maria Braz Martins, - autor de Gabriel e Lusbel ou o Taumaturgo Santo António, e actor do Theatro do Gymnasio - escreve uma alegoria em verso à Exposição Internacional do Porto, que tenciona oferecer à direcção do Palacio de Crystal.

ANUÁRiO

1823-1872 - José Maria Braz Martins: Actor e autor teatral português - «Um artista dos mais inteligentes, que sabia dizer com propriedade e intuição sensual e física, produzindo em cena caracteres e tipos correctamente copiados da verdade humana, deixando um monumento honrado que o há-de fazer lembrar longamente» (Diário de Notícias - 18NOV1872). IMAG.395

1883-1967 - Marie Rouget, aliás Marie Noёl: Poetisa francesa - «Aquele que de nada precisa, tudo lhe faz falta».


CALENDÁRiO

19JAN-20MAI2012- Museu Nacional de Etnologia expõe António Peralta (1919-1984) - O Pintor Que Esculpia Histórias.

14MAR2012 - Em Conselho de Ministros, o Governo define que o arquivo da Tobis Portuguesa - recentemente vendida à empresa angolana Filmdrehtsich, que ficará com o negócio de restauro e digital - passa a ser classificado como «tesouro nacional», envolvendo o património fílmico e imobiliário, pelo que o acervo audiovisual não poderá ser alienado para o estrangeiro, sendo necessária autorização oficial para qualquer movimentação temporária.
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VISTORiA

Do Primeiro Beijo

É o primeiro gole de néctar da Vida, numa taça ofertada pela divindade. É a linha divisória entre a dúvida que engana o espírito e entristece o coração, e a certeza que inunda de alegria nosso íntimo. É o começo da canção da Vida e o primeiro acto do drama do Homem Ideal. É o vínculo que une a obscuridade do passado com a luminosidade do futuro. É a ponte entre o silêncio dos sentimentos e a sua própria melodia. É uma palavra pronunciada por quatro lábios, proclamando o coração um trono, o Amor um rei e a fidelidade uma coroa. É o toque leviano dos dedos delicados da brisa nos lábios da rosa - pronunciando um longo suspiro de alívio e um suave gemido.
É o começo daquela vibração mágica que transporta os amantes do mundo das coisas e dos seres para o mundo dos sonhos e das revelações.
É a união de duas flores perfumadas; e a mistura de suas fragrâncias, para a criação de uma terceira alma.
Assim como o primeiro olhar é uma semente lançada pela divindade no campo do coração humano, assim o primeiro beijo é a primeira flor nascida na ponta dos ramos da Árvore da Vida.
Khalil Gibran 
- A Voz do Mestre

Isaac Newton disse que pôde ver mais além porque estava aos ombros de gigantes, mas não acreditava nisso. Nasceu num mundo de trevas, obscuridade e magia; conduziu uma vida estranhamente pura e obsessiva, sem pais, amantes ou amigos; pelejou amargamente com grandes homens que se atravessaram no seu caminho; esteve pelo menos uma vez à beira da loucura; escondeu o seu trabalho em secretismo; e contudo descobriu mais no que respeita ao núcleo essencial do conhecimento humano do que qualquer outra pessoa antes ou depois dele.
James Gleick
- Isaac Newton (2003 - excerto)

COMENTÁRiO

Afinal a Maçã Não Caiu Na Cabeça de Sir Isaac Newton


Um dos mais famosos episódios da história da ciência, o da maçã que caiu sobre a cabeça de Isaac Newton e que levou o cientista a formular a teoria da gravidade, será infelizmente apenas uma boa lenda.
A Royal Society de Londres disponibilizou o manuscrito da biografia de Newton, publicada em 1752 e da autoria de William Stukeley, Lembranças da Vida de Isaac Newton, onde o autor menciona o episódio.
Segundo conta o biógrafo, os dois homens jantaram e conversaram enquanto tomavam chá sob um pomar de macieiras. E Newton contou ao seu amigo como lhe ocorrera a ideia, ao ver uma maçã a cair no chão. «Por que razão uma maçã desce sempre de forma perpendicular ao chão?», questionou-se o cientista.
Afinal, a maçã nunca caiu na cabeça de Newton, mas no seu ângulo de visão. O manuscrito de Stukeley pode ser visto na Internet, AQUI.
20JAN2010 - Diário de Notícias

TRAJECTÓRiA

António Peralta - O Pintor que Esculpia Histórias


António Peralta (1919-1984) nasceu em Vila Nova do Coito (Almoster) onde residiu grande parte da sua vida. Foi carpinteiro de muita obra, desde o travejamento e emadeiramento da casa em construção, ao mobiliário, alfaia agrícola e outro equipamento doméstico ou da lavoura.
No começo da década de 1950 vive com a sua companheira na aldeia vizinha de Alforzemel, na casa que está a concluir e onde tem a sua oficina. Quando a conhecemos, falou-nos daquela intensa relação e do interesse de Peralta pela leitura. Daí ela dizer saber de memória o Amor de Perdição que o companheiro lhe lia em voz alta. Virão em breve os anos de ruptura desta ligação, e um progressivo isolamento afasta-o do convívio de familiares e vizinhos. Estes, aparentemente, não vieram a ter conhecimento e nada nos podem dizer da sua obra de artista.
Sabemos que no começo dos anos de 1960 já fazia quadros como os que mostramos, talvez mesmo alguns dos que aqui podemos ver. E é também naqueles anos que deixa de aceitar trabalhos de obra grossa como os que antes fazia.
Peralta vinha a Lisboa de camioneta, na carreira do Vinagre, e colocava os seus quadros em estabelecimentos em vários pontos da cidade, sem que saibamos ainda os motivos ou o puro acaso dessa escolha. Temos notícia, por exemplo, de lugares na Rua da Palma, Rua Barros Queirós, Rua Cecílio de Sousa, ou um adelo entre Alfama e St.ª Apolónia. Ali viriam a despertar o olhar e o fascínio daqueles que, pelos canais da amizade e de cumplicidades sociais e estéticas, partilharam essa revelação.
A pesquisa que conduzimos, inspirada pelas duas exposições antes feitas nas GaleriasTrem e Arco (Faro, 1996) e na Galeria Novo Século (Lisboa, 1998), permitiu reunir cerca de uma centena de quadros e tomar conhecimento de muitos outros que não vieram a ser contemplados nesta exposição. São um espaço em aberto para múltiplas interrogações de uma obra cuja leitura não se esgota na enumeração dos temas, e encontrará muito do seu sentido na própria exigência formal e na execução material que o autor nelas imprime. Uma obra que ajuda a colocar questões para uma antropologia da construção do indivíduo e das formas de interrogar o mundo.
A exposição tornou-se possível pela disponibilidade, generosidade e entusiasmo dos coleccionadores da obra de António Peralta que acrescentaram ao empréstimo dos quadros as preciosas informações sobre as circunstâncias da sua aquisição e a expressão da emoção e dos afectos que neles se projectam.

BREVIÁRiO

7 Nós edita Ferdydurke de Witold Gombrowicz (1904-1969); tradução de Maja Marek e Júlio do Carmo Gomes. IMAG.236

Gradiva edita O Grande Inquisidor de João Magueijo; tradução de Helena Ramos. 
 

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