terça-feira, outubro 24, 2017

IMAGINÁRiO #392

José de Matos-Cruz | 24 Outubro 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

TESTEMUNHOS
Uma das alternativas mais aliciantes e populares, em quadradinhos, a vertente histórica - com características de reflexão ou testemunho - conjuga a expectativa de editores e criadores, ao interesse das instituições e dos leitores de todas as idades.
Tendo-se especializado, pelos últimos anos, na revisão de circunstâncias do passado, recente ou remoto, através do perfil dos seus eventuais protagonistas, ou das ocorrências mais relevantes, José Ruy concretiza outras propostas de revitalização, em incidências culturais, políticas, e em primordiais implicações comunitárias: eis
Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos - um lançamento da Âncora Editora - evocação assumida e personificada sobre a vida e a obra do grande filósofo e pedagogo (1883-1936), cujas ideias e «inflamados discursos fizeram história e, ainda hoje, os seus pensamentos são actuais e dão resposta a interrogações e anseios do saber» - como destaca Inácio Ribeiro, Presidente da Câmara Municipal de Felgueiras. Ilustrando, solidário, o depoimento intelectual, os desafios singulares e os ideais colectivos, como artista talentoso, versátil, em afecto também pelo homem afável, generoso, José Ruy é - sobretudo - um autor português que, através dos quadradinhos, delineou o carácter com que nos posicionamos, na realidade. Inspirando o melhor da fantasia, na qual perspectivamos uma sociedade mais justa.
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MEMÓRiA

10JAN922-1989 - João de Freitas Branco: Musicólogo e matemático português, autor de História da Música Portuguesa (1959), filho de Luís de Freitas Branco - «Foi, sem dúvida, o grande educador musical dos portugueses» (Jorge Calado).

27OUT1782-1840 - Niccolò Paganini: Compositor e violinista italiano - «Isto é que é um homem! Isto é que é um violino! Isto é que é um artista! Céus! Que sofrimentos, que miséria, que tortura nestas quatro cordas!» (Franz Liszt). IMAG.92

30OUT1932-1995 - Louis Malle: Realizador, argumentista e produtor francês, do cinema internacional - «Nos meus filmes, interesso-me por personagens que se encontram numa situação em que contende algo de superior, acabando por desviá-las do seu caminho».

31OUT1632-1675 - Johannes van der Vermeer: Pintor holandês, mestre em ambientes de interior e no tratamento da luz, viveu sempre na cidade natal, cujas Vistas de Delft era considerado «o quadro mais belo do mundo» por Marcel Proust.

31OUT1902-1987 - Carlos Drummond de Andrade: Poeta e contista brasileiro - «Eterno é tudo aquilo que dura uma fracção de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica». IMAG.79-384

NOTICIÁRiO

Reforma

Os carrascos franceses que foram reformados e passados à classe inactiva, são 80.
03MAR1872 - Diário de Notícias

VISTORiA

As Sem Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade

ANTIQUÁRiO

28OUT1892 - No Cabinet Fantastique do Musée Grévin, em Paris, Émile Reynaud apresenta o Théâtre Optique - combinando a lanterna mágica com o praxinoscópio, por onde passava uma longa tira de papel dividida em pequenos quadrados, nos quais estavam cinegramas (imagens desenhadas com ligeiras diferenças entre si) que, movimentados a cadência de dezoito por segundo, criavam pela primeira vez sobre um ecrã a ilusão de movimento (Pantomimas Luminosas). IMAG.166

OUT1872 - Neste mês, o Porto exporta 2.478.453 litros de vinho, no valor de 721:739$500 réis.

COMENTÁRiO

Mas um outro e mais sério perigo vai levantar o uso da inteligência nas sociedades primitivas - a descoberta da Morte. O animal vive sem esse conhecimento, mergulhado no mundo pelas sensações, ocupando a consciência com a acção, obturando o clamor do passado na adaptação de agora e vivendo o futuro como presente na ocupação sucessiva dos caminhos das tendências ou instintos a satisfazer.
Só o homem pensa e conhece a Morte. Ou porque seja, com Scheler, o único animal que objectiva, dizendo eu e o Mundo; ou porque, com Heidegger, viva um tempo primordial onde o passado se acusa no presente e onde o futuro se abre à projecção da sua angústia.
Heidegger encontra, com efeito, na existência humana perdida no mundo e na existência humana reencontrando-se, os caracteres fenomenológicos da existência. A fenomenologia da existência é, para ele, a ontologia da realidade. Existência, que se encontra na existência humana, pois que nenhuma existência há que não esteja nesta envolvida - ele o conclui por um renovo do argumento ontológico de Santo Anselmo. O primeiro carácter dá a inquietação, o mal-estar e o medo, que o homem banal adormece na uniformidade do mal de todo o Mundo. O segundo carácter dá a angústia perante o desamparo da sua existência finita e humilhada. Esta angústia é, sobretudo, a angústia perante a Morte, temporalização primordial, em que o passado e o presente se englobam num verdadeiro futuro.
Leonardo Coimbra
- O Homem às Mãos Com o Destino (1936)

Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci. Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite. Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo. Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!
Carlos Drummond de Andrade

CALENDÁRiO

1936-17JAN2012 - Carlos Pujol: Escritor e editor espanhol, membro permanente do júri do Prémio Planeta - «Erudito, culto, afável… Era um grande homem de letras, universalmente respeitado e apreciado por todos» (José Manuel Lara).

18JAN-25FEV2012 - Em Lisboa, no Teatro da Politécnica, Artistas Unidos apresenta Dias de Vinho e Rosas de Owen McCafferty; com Maria João Falcão e Rúben Gomes.

26JAN-15ABR2012 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva expõe, em colaboração com CAM/Fundação Calouste Gulbenkian, Amigos de Paris: Lourdes Castro, René Bertholo, José Escada, Jorge Martins.  
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27JAN-04MAR2012 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Artefactos Importantes e Objectos Pessoais da Coleção de Lenore Doolan e Harold Morris, Incluindo Livros, Roupa e Acessórios.

BREVIÁRiO

VGM edita em CD, sob chancela Alpha, Johann Sebastian Bach [1685-1750]: Concerts Avec Plusieurs Instruments (Vol. I a VI) - Intégrale por Café Zimmermann.
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Presença edita Reflexos Num Olho Dourado de Carson McCullers (1917-1967); tradução de Marta Mendonça. IMAG.317

Guimarães edita América, América de Jorge de Sena (1919-1978). 
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EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS - Folhetim Aperiódico

QUANDO A NOITE ESTÁ PARADA VÃO-SE OS VENTOS DE MUDANÇA - 3

Ostensivamente, Olavo acariciou a rosa que levava na lapela. Depois, travou o passo, virando-se estreitamente para Silvina:
- Talvez seja assim... divagou, galanteador. Sim, a Primavera é também como uma mulher, que dá vida às coisas e regenera a nossa própria existência. Mas, considere, Silvina, no resto do tempo há, também, momentos inclementes ou escaldantes. Tal como os homens não são todos iguais!
Continua

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