sexta-feira, setembro 29, 2017

IMAGINÁRiO #378

José de Matos-Cruz | 08 Julho 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ESPLENDOR
Presentemente, um nome maior da escola franco-belga, o artista suiço Enrico Marini evoca a mangà nipónica, através de sofisticada ilustração narrativa, pelas atmosferas dum grafismo sensual, sangrento ou monumental, o qual é tributário do imaginário cripto-gótico na actual exploração por Hollywood. Obra épica, de maturidade e sagração, As Águias de Roma - em Livro II, com edição sob chancela Asa - é uma proposta para os fãs ávidos de emoções fortes, ambientada no esplendor imperial, pelo ano 9 d.C. Feito refém, após tremendos combates, Ermanamer, filho do príncipe Sigmar, é confiado por Augusto ao leal Tito Valério Falco, pai de Marco, que tem a mesma idade… Disciplina, companheirismo, subjugação, rivalidade amorosa, atravessam uma realidade tranquila ou violenta na aparência faustosa, sob a qual se ocultam forças decisivas, com influência sobre o bem e o mal. Entre vítimas e vencedores, predadores ou coniventes, sob estigmas sobrenaturais/demoníacos, eis símbolos/significados paralelos à mutação dos códigos de uma leitura sobre a história... IMAG.8-17-25-56-344

CALENDÁRiO

SET2011 - São postos à venda dois cadernos Moleskine - da colecção Cover Art, envolvendo uma homenagem à «criatividade e liberdade de expressão» - com capa ilustrada por Ricardo Cabral; ambos com 96 páginas, disponíveis juntos e com o mesmo desenho (de uma série sobre Barcelona), mas com cores diferentes. IMAG.185-340

MEMÓRiA

15MAI891-1940 - Milkhail Bulgákov: Ficcionista e dramaturgo russo - «Todo o poder é uma violência exercida contra as pessoas».

1461-18JUN1532 - D. Diogo de Sousa: Bispo do Porto (1496) e Arcebispo de Braga (1505) - protector das artes e das letras, promotor da impressão de Constituições e Evangelhos e Epístolas Com Suas Exposições Em Romance (Porto - 1497), fundador do Colégio de São Paulo (Braga - 1531) com ensino gratuito.

04AGO1792-08JUL1822 - Percy Blysshe Shelley: Poeta romântico inglês - «As almas encontram-se nos lábios dos enamorados». IMAG.79

1885-09JUL1932 - King Camp Gilette: Inventor americano, concebeu e produziu, a partir de 1903, a gilette - lâmina de barbear descartável, colocada num instrumento simples de usar e com a vantagem de não se deitar fora.

14JUL1862-1918 - Gustav Klimt: Artista plástico austríaco - «Quem olha para mim, nada vê de especial. Sou um pintor que trabalha todo o dia, de manhã até à noite - figuras e paisagens, mais raramente retratos».

15JUL1892-1940 - Walter Benjamin: Ensaísta e filósofo alemão - «O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história. Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a humanidade redimida o passado é citável, em cada um dos seus momentos». IMAG.37-153-292

VISTORiA

Bulgákov

A ti, que em vez das rosas sepulcrais,
Em vez do incenso do turíbulo,
Tiveste uma vida tão difícil, e até ao fim
Ostentaste um magnífico desdém.

Bebias vinho, troçavas como ninguém
E sentias gravar o sufoco de paredes,
E à terrível visitante abriste a porta
E com ela a sós te fechaste.

Deixas de ser, e tudo à volta cala
A tua vida sofrida e sublime,
Só a minha voz ressoará com flauta
No silêncio de teu banquete funerário.

Oh, quem havia de crer que a mim, a doida,
A mim, que ardo em fogo lento,
Que me esvaio toda e sou por todos esquecida,
Tocaria entender um ser que, cheio de forças,
de ideias brilhantes, e de vontade,
É como se ontem falasse comigo,
Dissimulando o calafrio da agonia.
Anna Akhmátova (1940)

VISTORiA

Ninguém pode dizer: «vou compor poesia». Nem o maior poeta o pode afirmar, pois, ao criar, o espírito é como brasa que se extingue, mas que uma influência invisível, qual vento constante, desperta para um fulgor transitório; este poder nasce de dentro, como a cor de uma flor que desmaia e muda à medida que se desenvolve; e a parte consciente da nossa natureza é incapaz de profetizar - quer a sua aproximação, quer o seu afastamento: pudesse esta influência perdurar na pureza e na força originais, e seria impossível predizer a grandeza dos resultados; porém, quando se inicia a composição, a inspiração está já em declínio, e a mais gloriosa poesia que alguma vez se comunicou ao mundo é provavelmente uma ténue sombra das concepções originais do poeta. Invoco o testemunho dos maiores poetas do presente: não será um erro afirmar que os mais belos trechos poéticos são produto do labor e do estudo? O labutar e o proletar recomendados pelos críticos podem, numa interpretação justa, não significar mais do que uma cuidadosa observância dos momentos de inspiração e uma ligação artificial das suas sugestões, preenchendo os espaços entre elas com a intertextura de expressões convencionais, uma necessidade imposta apenas pelas limitações da própria faculdade poética.
Percy Bysshe Shelley
- Uma Defesa da Poesia (excerto)

Uma nova forma de miséria surgiu com esse monstruoso desenvolvimento da técnica, sobrepondo-se ao homem. A angustiante riqueza de ideias que se difundiu entre, ou melhor, sobre as pessoas, com a renovação da astrologia e do ioga, da christian science e da quiromancia, do vegetarianismo e da gnose, da escolástica e do espiritualismo, é o reverso dessa miséria. Porque não é uma renovação autêntica o que está em jogo, e sim uma galvanização. Pensemos nos esplêndidos quadros de Ensor, nos quais uma grande fantasmagoria enche as ruas das metrópoles: pequeno-burgueses com fantasias carnavalescas, disformes máscaras brancas de farinha, coroas de folha de estanho, rodopiam imprevisivelmente ao longo das ruas. Esses quadros são talvez a cópia da Renascença terrível e caótica na qual tantos depositam as suas esperanças. Aqui se revela, com toda a clareza, que a nossa pobreza de experiências é apenas uma parte da grande pobreza que recebeu novamente um rosto, nítido e preciso como o do mendigo medieval. Pois qual o valor de todo o nosso património cultural, se a experiência não mais o vincula a nós? A horrível mixórdia de estilos e concepções do mundo do século passado mostrou-nos com tanta clareza aonde esses valores culturais nos podem conduzir, quando a experiência nos é subtraída, hipócrita ou sorrateiramente, que é hoje em dia uma prova de honradez confessar a nossa pobreza. Sim, é preferível confessar que essa pobreza de experiência não é mais privada, mas de toda a humanidade. Surge assim uma nova barbárie.
Walter Benjamin
- Experiência e Pobreza (1933 - excerto)

Tudo passa. Sofrimentos, dores, sangue, fome e peste. A espada vai desaparecer, mas as estrelas vão permanecer no céu, quando nem uma sombra dos nossos corpos e das nossas obras restar no mundo.
Milkhail Bulgákov
- A Guarda Branca (excerto)


BREVIÁRiO

Presença edita A Guarda Branca de Milkhail Bulgákov (1891-1940); tradução de Nino Guerra e Filipe Guerra.

Orquestra Metropolitana de Lisboa edita em CD, com Câmara Municipal de Lisboa, Música Para Lisboa por Ricardo Parreira (guitarra portuguesa) com Orquestra Metropolitana de Lisboa, sob a direcção de Cesário Costa.

Polvo edita A Ermida, em banda desenhada com argumento e ilustração de Rui Lacas. IMAG.127-192-280

Clean Feed edita em CD, Riptide por Gerry Hemingway Quintet.

ANTIQUÁRiO

14JUL1912 - Ao correr a prova de Maratona, durante os V Jogos Olímpicos da Era Moderna em Estocolmo, os primeiros em que Portugal participou, Francisco Lázaro tomba inanimado; pelos 28 km, seguia a par com o sul-africano Kane McArthur, que triunfou; pouco depois, cambaleou até cair em colapso. Carpinteiro numa fábrica de carroçarias em Lisboa, o atleta - que havia declarado «ou ganho, ou morro» - untara o corpo com sebo pouco antes da partida, para se proteger do sol; sendo-lhe diagnosticada uma meningite, faleceu horas depois no hospital, sem ter recuperado a consciência.

OBSERVATÓRiO

- Histórias da Menina-Cão - Blog de Ana e André Ruivo - «Imagino que vivem sozinhos na grande casa como uma trupe de ocupas, espreitando caixotes do lixo, aos restos e a colher gestos espontâneos de afecto pela vizinhança…». IMAG.375
 

Sem comentários:

Enviar um comentário