domingo, setembro 24, 2017

IMAGINÁRiO #376

José de Matos-Cruz | 24 Junho 2012 | Edição Kafre | Ano IX – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

HUMORES
Após uma primeira geração de notáveis artistas pioneiros, a banda desenhada de expressão franco-belga explora distintos horizontes e protagonistas, sob a estratégia das principais editoras, e visando um mais amplo público. Aos aliciantes da aventura correspondem os temas alternativos, revelando-se versáteis grafismos. Humor estilizado, como testemunho da realidade actual, eis uma receita de sucesso - que, em quadradinhos, se destina especialmente aos leitores adultos.
Da irrisão política à caricatura social, envolvendo tempos de crise e período de férias, sob chancela Asa, Os Campistas - por Veerle Swinnen & Dugomier (argumento) e Eric Maltaite (ilustração) - desvenda a tórrida e agitada vizinhança no Parque de Campismo Bela-Vista; em contraste, Os Funcionários - por Béka (argumento) e Bloz (ilustração) - reporta um quotidiano burocrático e contestatário, Sempre Em Festa! Sátira hilariante, sarcasmo e ironia - o objectivo é rir, sem inibições ou tácticas de sofisticação - em situações ambíguas, radicais, entre a identificação individual e a exacerbação colectiva.

CALENDÁRiO

23OUT1917-21SET2011 - Júlio Martins Resende da Silva Dias, aliás Júlio Resende: Artista plástico português, distinguido com o Prémio AICA/Associação Internacional de Críticos de Arte - «Às vezes, pergunto-me: tu achas que valeu a pena? Essas dúvidas também doem muito. Não sei se valeu a pena. O futuro o dirá, talvez». IMAG.132-168

04-13NOV2011 - Celebrando «o cinema enquanto criação artística», decorre o Lisbon & Estoril Film Festival.

MEMÓRiA

24JUN1542-1591 - Juan de Yepes, aliás São João da Cruz: «Nessa noite ditosa, / secretamente, que ninguém me via, / de nada curiosa, / sem outra luz nem guia / senão a do coração que me ardia» (Noite Escura). IMAG.350

24JUN1842-1914 - Ambrose Gwinnett Bierce: Escritor e editor americano - «A erudição é poeira caída de um livro sobre um crânio vazio».

25JUN1852-1926 - Antonio Gaudi: Arquitecto catalão - «A criação prossegue incessantemente por intermédio do homem, mas o homem não cria: descobre». IMAG.154

26JUN1892-1973 - Pearl Sydenstricker Buck, aliás Pearl S. Buck: Escritora norte-americana, Prémio Nobel da Literatura em 1938 - «Quando cessa a vigilância e os esforços dos bons em todo o país, predominam os homens maus». IMAG.87

1891-26JUN1982 - Alfredo Rodrigo Duarte, aliás Alfredo Marceneiro: Português, fadista - «É sempre tristonha e ingrata /Que se torna a despedida / De quem temos amizade / Mas se a saudade nos mata / Eu quero ter muita vida / Para morrer de saudade» (Despedida - excerto). IMAG.175-261-317-371

28JUN1712-1778 - Jean-Jacques Rousseau: Escritor e filósofo suíço, teórico político - «O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer “isto é meu”, e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao género humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos seus semelhantes: “Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”». IMAG.185-270-309

1883-29JUN1982 - Henry King: Cineasta americano - «Quando se faz um filme, trabalhamos durante meses a preparar a história, a aprontá-la, a juntar uma equipa, a constituir um staff à nossa volta, a arranjar um guarda-roupa, a construir os cenários, a pesquisar, a ter tudo preparado. Quando começamos a rodá-lo, tornou-se uma grande empreitada. Quando o terminamos, quando se acaba a montagem e o enviamos para visionamentos, acabou-se tudo». IMAG.77-169

30JUN1232 - O Papa Gregório IX canoniza Santo António de Lisboa, na cidade de Espoleto. Neste mesmo dia, segundo a tradição, repicam os sinos das diversas torres de Lisboa, sem impulso de ninguém.  
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VISTORiA

Modo de não impedir o tudo:
Quando reparas em alguma coisa,
deixas de arrojar-te ao tudo.
Porque para vir de todo ao tudo,
hás de negar-te de todo em tudo.
E quando vieres a tudo ter,
hás de tê-lo sem nada querer.
Porque se queres ter alguma coisa em tudo,
não tens puramente em Deus teu tesouro.
São João da Cruz

PARLATÓRiO

Mesmo quando cada um de nós pudesse alienar-se, não poderia alienar a seus filhos: eles nascem homens e livres, a sua liberdade pertence-lhes e ninguém, senão eles, pode dispor dela. Antes de chegar à idade da razão, o pai pode, em seu nome, estipular as condições de sua conservação, do seu bem-estar. Porém, sem dá-los irrevogável e incondicionalmente, porque um dom semelhante contraria os fins da natureza e sobrepõe os limites da finalidade paternal. Seria, pois, preciso para que um governo arbitrário fosse legítimo, que, em cada geração, o povo fosse dono de aceitá-lo ou de rejeitá-lo. Porém, o governo não seria, então, arbitrário.
Jean-Jacques Rousseau

A mente verdadeiramente criativa em qualquer campo não é mais que isto: uma criatura humana nascida anormalmente, inumanamente sensível. Para ele, um toque é uma pancada, um som é um ruído, um infortúnio é uma tragédia, uma alegria é um êxtase, um amigo é um amante, um amante é um deus e o fracasso é a morte. Adicione-se a este organismo cruelmente delicado a subjugante necessidade de criar, criar, criar - de tal forma que sem a criação de música ou poesia ou literatura ou edifícios ou algo com significado, a sua respiração lhe é cortada. Ele tem que criar, deve derramar criação. Por qualquer estranha e desconhecida urgência interior, não está realmente vivo a menos que esteja criando.
Pearl S. Buck

BREVIÁRiO

Ulisseia edita Os Armários Vazios de Maria Judite de Carvalho (1921-1998).

Presença edita O Grande Gatsby (1925) de F. Scott Fitzgerald (1896-1940); tradução de José Rodrigues Miguéis. IMAG.161-303-334

Ramée edita em CD, Georg Friedrich Händel [1685-1759]: Suites de Piéces Pour le Clavecin pelo cravista Cristiano Holtz. IMAG.196-222-243-253-296

Cotovia edita Histórias de Imagens de Robert Walser (1878-1966); tradução de Pedro Sepúlveda. IMAG.200

Movieplay Classics edita em CD, As Sonatas Para Violino e Piano de Óscar da Silva (1870-1958) e Armando José Fernandes (1906-1983) por Bruno Monteiro (violino) e João Paulo Santos (piano).

Guimarães edita Principais Poemas de Edgar Allan Poe (1809-1849); introdução de Fernando Pessoa, traduções de Fernando Pessoa e Margarida Vale de Gato. IMAG.66-211-244-254

INVENTÁRiO

Júlio Resende
Júlio Resende diplomou-se em Pintura, em 1945, pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, onde foi discípulo de Dórdio Gomes. Fez a sua primeira aparição pública em 1944, na I Exposição dos Independentes. Em 1948, partiu para Paris, recebendo formação de Duco de la Haix e de Otto Friez. O trabalho produzido em terras gaulesas é exposto em Portugal, em 1949, e as propostas actualizadas que Resende demonstra têm reflexo nos artistas portugueses, definindo a sua vocação de expressionista. Assimilou algum cubismo, que vai construir na sua fase alentejana, e mais tarde, no Porto, desenvolveu uma pintura caracterizada pela plasticidade e pela dinâmica, de malhas triangulares ou quadrangulares, aproximando-se de forma progressiva da não-figuração. Do geometrismo ao não-figurativismo, do gestualismo ao neofigurativo, a sua arte desenvolveu-se numa encruzilhada de pesquisas, cuja dominante será sempre expressionista e lírica. Pintor de transição entre o figurativo e o abstracto, distingue-se também como professor, trazendo à Escola do Porto um novo espírito, aos alunos que a frequentaram na década de 1960. A obra pictórica de Júlio Resende revela como percebeu a pintura europeia, pois a observou, experimentou e soube transmitir aos pintores e aos alunos que formou na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Uma das suas obras mais conhecidas é «Ribeira Negra», no Porto.

VISTORiA

A
Abandonado - s. e adj. O que não tem favores para outorgar. Desprovido de sorte. Amigo da verdade e do senso comum.

Abdicação - s. Acto mediante o qual um soberano demonstra perceber a alta temperatura do trono.

Abdómen - s. Templo do deus Estômago, ao qual rendem culto e sacrifício todos os homens autênticos. As mulheres só prestam a esta antiga fé um sentimento vacilante. Por vezes, oficiam no seu altar, de modo tíbio e ineficaz, mas sem veneração real pela única deidade que os homens verdadeiramente adoram. Se a mulher manobrasse a seu gosto o mercado mundial, a nossa espécie tornar-se-ia erbívora.

Aborígenes - s. Seres de escasso mérito que entorpecem o dolo de um país recém-descoberto. Cedo, deixam de entorpecer; então, fertilizam.
Ambrose Bierce
- O Dicionário do Diabo (1906-1911 - excerto)

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

A PENA DURA EM PEITO MOLE - 9

O que havia de se fazer a uma consumição daquelas farfalhuda, porém sem aparentemente gravidade e, ainda por cima, do género feminino?
Despachá-la para a Cadeia do Aljube?
Encerrá-la no Hospital de Rilhafoles?
Ora, meia população deste transviado Reino de Portugal teria, então, que ser circunscrita ao Alentejo ou degredada em África.
Continua

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